Uma forte lembrança que tenho da Peruíbe dos anos ointenta do século passado é a de, durante a minha adolescência, caminhar por ruas de terra, muitas vezes enlameadas por causa da chuva, em meio à uma paisagem urbana de aparência rústica, onde não faltavam casas que os bem-nascidos de São Paulo consideravam miseráveis e pessimamente cuidadas. Barracos feitos com madeira compensada, metal corrugado e chão de terra batida eram visíveis mesmo em áreas centrais da cidade, embora fossem dando lugar para a expansão imobiliária que deu ao município o perfil arquitetônico atual. A juventude de classe-média que hoje estuda em escolas particulares (naquele tempo só tinha uma) nem faz ideia de como era a rusticidade praiana, vivida por muitos que hoje são pais ou até avós. A Terra da Eterna Juventude era mais "selvagem" do que agora, com enormes terrenos vazios e até cobertos por muita mata, mas dotada de um potencial que me alimentava de esperança para com o futuro. Ah, e tinha as músicas, eram tantas ....
O comercial acima me animou muito em noites solitárias. Era muito difícil ser um jovem pobre e sem perspectivas na peruba city oitentista, tendo a música como um refúgio, imaginando uma vida futura de pequeno-burguês em São Paulo, cidade na qual nasci, e para a qual desejava voltar. Quantas vezes, em minhas antigas caminhadas solitárias, imaginei escutar e outras canções.
Na canção acima, me imaginava morando num daqueles belos apartamentos paulistanos, mas ainda solitário, olhando pela janela, e vislumbrando alguém numa atitude para mim inusitada. Anos 80 e suas poesias.
Ver esses caras em suas motos, tendo como fundo essa bela música, me dava uma vontade de pegar a estrada e viver a minha liberdade!
Em Miami Vice, vislumbrava o que para mim seria a cidade litorânea ideal, onde não me faltariam grandes aventuras.
MARCADORES: PERUÍBE DOS ANOS OINTENTA, CAMINHADAS JUVENIS NA TERRA DA ETERNA JUVENTUDE, MARÇO, 2024
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