terça-feira, 9 de julho de 2024

UM PERUIBENSE NO FIM DA MADRUGADA E NO INÍCIO DE UM NOVO DIA (CONTO AUTOBIOGRÁFICO) - JULHO DE 2024




Às cinco e meia da madrugada o despertador do celular tocou, e um peruibense despertou, numa noite fria de inverno, o fim de uma madrugada, pouco antes do sol nascer. Sem mais demora, tratou de se trocar, ventindo-se com roupas separadas com antecipação, pôs o tênis, colocou a marmita que estava na geladeira na mochila, e após perguntar para a Alexa qual era a temperatura e se choveria, tomou coragem, e partiu rumo à rodoviária.

Alguns meses antes, estava morando com a família numa casa mais próxima da praia, mas a situação do país se agravou, piorou tanto que o aluguel tornou-se proibitivo para todos. Para ele, o jeito foi retornar para a humilde casa - própria - onde morava até quatro anos atrás. Em princípio pensou que seria um retorno inglório, um retrocesso social, no sentido que teria menos conforto, raciocínio que se mostrou felizmente desacertado, pois passou a lhe sobrar mais dinheiro, ocorrendo o mesmo com os parentes que voltaram a residir no mesmo imóvel. Uma situação mais simples, porêm mais sustentável.

A caminhada até a rodoviária foi solitária, breve e tranquila, algo rotineiro para alguém que a mais de quinze anos trabalhava fora do município. Estando em seu segundo emprego "entre os bananais do vale", como dizia para si mesmo, não via esse misto de escolha com necessidade (a busca por trabalho, onde o mesmo estivesse), como um sacrifício. Os tempos de pária (desempregado crônico) numa Peruíbe sem misericórdia - onde só teve patrões medíocres e exploradores - estavam bem para trás, um período difícil o qual pode superar através de muito estudo (para participar de diversos concursos públicos), para alcançar uma liberdade pessoal que lhe parecia inexistente, pois via naquela condição social humilhante uma forma de cárcere. Então, após muito tentar, tornou-se livre de tanto sofrimento, e o vale do ribeira virou seu segundo lar.



Enquanto aguardava pelo ônibus que o levaria até a cidade vizinha, admirava o nascer do sol, para ele o eterno símbolo do recomeço e de uma nova chance. Quantos na terra da eterna juventude tiveram a mesma oportunidade que a dele, de ter aquele mínimo de independência, num lugar lotado de desempregados e subempregados? "Não - pensou - "isso errado. Eu fui atrás, mesmo com muitos contra mim. Busquei a oportunidade, não a esperei. O que tenho, consegui por esforço próprio, e com a ajuda das poucas pessoas que me apoiaram e me motivaram, meus amigos de verdade, e sem puxar o saco de político."

Satisfeito por recordar que não devia o que tinha para algum "poderoso" local (o tipo de pessoa que sempre desprezou), embarcou em seu ônibus e partiu para um novo dia de trabalho, numa terra próxima que muitos achavam distante, e livre de vários problemas do passado.







Cansei das "mãos frias" e da "falta de amor" desta terra


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MARCADORES: UM AMANHECER INVERNAL EM PERUÍBE, RODOVIÁRIA DE PERUÍBE, CONTO, AUTOBIOGRAFIA, EXPERIÊNCIAS PESSOAIS, JULHO, 2024

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