Após novamente olhar a temperatura, no aplicativo do celular (uns aprazíveis 6°C), ela se sentiu como uma "prisioneira numa cidade congelante", da qual o último ônibus para algum lugar quente já tinha partido. E agora estava quase que isolada, totalmente dependente dos recursos do pequeno apartamento, sozinha consigo mesma, sozinha com a escuridão e o frio daquela gelada e silenciosa noite curitibana.
Mas mesmo "presa", ela estava satisfeita.
Numa madrugada de inverno no ano anterior, ela assistiu acompanhada do namorado a chegada da neve. Naquela época ambos estavam afastados, pois o rapaz ainda estava em Peruíbe, ao contrário dela, que meses antes tinha migrado. Mas pouco após o amanhecer daquele dia tão especial, ele revelou que também se mudaria pra lá, o que a deixou imensamente feliz, pois o grande inimigo do relacionamento deles (a distância) seria enfim superado. E quase que um ano depois, o casal já morava junto.
Naquela quarta-feira o rapaz estava no distante litoral paulista, cuidando de um negócio na Terra da Eterna Juventude, e também visitando a família. Seguindo o conselho de um amigo de infância que viveu em São Paulo durante anos, ele aderiu ao trabalho home office, o que facilitou muito para que se estabelecesse na capital paranaense, tal como tinha prometido para ela, funcionária de uma loja num movimentado Shopping. E agora que a pandemia se aproximava do fim, a moça pensava em tirar um certo diploma da gaveta, para finalmente lecionar em alguma escola, e ensinar aos piás locais.
O apartamento era bem localizado, com uma bela vista noturna de Curitiba, do qual dava até pra ver o imenso letreiro do Shopping no qual trabalhava. Com um aquecedor ligado, e escutando música pelo youtube, a "prisioneira" conversou online com uma amiga, também peruibense, que foi morar com a avó em Florianópolis. Friorenta, reclamava do termômetro marcar 11°C, e de ainda não ter arrumado um namorado, e aproveitou para pedir (mais uma vez, depois de tantas outras conversas) conselhos para alguém a qual considerava bem sucedida no amor, por finalmente conseguir viver junto ao amado, após várias dificuldades. A então catarinense por opção não a invejava, mas a admirava, a ponto de "se convidar" para uma possível futuro casamento, de um jeito que até fez a interlocutora rir.
Após darem boa noite uma para outra, ela trocou mensagens por um aplicativo com o amado, o qual lhe disse que na terra de origem deles o frio também estava severo (uns "confortáveis" 12°C). A tão aguardada "terceira onda de frio" não podia ser ignorada, e tornaria o inverno de 2021 inesquecível para todo mundo.
Depois se despedir dele de um jeito bem amoroso, a última garota arrumou o despertador e foi dormir, pensando em como seria bom se nos próximos dias vissem a neve novamente. Aquele evento tornou-se inesquecível, e um marco em suas existências. O rapaz embarcaria num ônibus na manhã do dia seguinte para o retorno, e quem sabe teriam a mesma sorte em breve. Pouco antes de adormecer, se imaginou como se estivesse sob a sombra da lua, longe de tudo, mas ao mesmo tempo longe de se sentir solitária. Enfim adormeceu, e teve um belo sonho, com ambos se divertindo entre flocos brancos que caíam do céu.
No momento que termino este conto, a temperatura em Peruíbe está em 12°C, com previsão de 8°C durante a madrugada.
POSTAGEM RECOMENDADA: A "ÚLTIMA GAROTA" PERUIBENSE NO INVERNO CURITIBANO
MARCADORES: TERCEIRA ONDA DE FRIO, FRENTE FRIA SEVERA, INVERNO EM CURITIBA, INVERNO EM PERUÍBE, MADRUGADA GELADA, NEVE, ROMANCE, JULHO, 2021
2 comentários:
Bem escrita a historia. Mas Curitiba é muito gelada e tem muitos curitibanos para ficar presa em apartamento pequeno! O frio faz o bicho pegar para todos os seres vivos até pedra fica gelada. Boa noite historia legal!
Em uma das vezes que visitei Curitiba (a esposa de meu irmão é de lá), foi durante um inverno, e encarei uma noite bem fria (para os meus padrões, pois nem teve geada), quando fiquei hospedado numa casa no Boqueirão, e gostei da experiência. Obrigado pelo comentário!
Postar um comentário