domingo, 21 de fevereiro de 2021

PARTINDO DE PERUÍBE, APÓS O AMANHECER (CONTO) -.FEVEREIRO DE 2021


Ele saiu de Peruíbe logo após o amanhecer. Acordou bem cedo, pegou as bagagens, preparadas durante a véspera, e foi pra calçada em frente de casa para aguardar os amigos. Curiosamente, era o último da família a se mudar para o sul, e naquela hora da manhã, nem os vizinhos o veriam partir, mas antecipadamente, despediu-se de todos eles.

Cresceu em um bairro pobre, e estava cansado de tantas limitações. Quando fez uns dezoito anos, o pai começou a sair para longe, em busca de oportunidades (fazendo trabalhos esporádicos como pedreiro, em outras cidades) até conseguir emprego de mecânico automotivo na cidade sorriso. A mãe, o irmão do meio e a irmã mais nova (caçula dos três) foram para lá tempos depois, mas ele ficou, encarando um emprego precário, sem registro e na visão dele mesmo, pessimamente pago. Sendo a casa dos pais, não tinha que se preocupar com aluguel, e o que ganhava permitia se alimentar. No começo do ano passado, já planejava se juntar aos familiares, mas a pandemia atrapalhou tudo. Perdeu o trabalho que precariamente o sustentava, e teve que recorrer ao famoso auxílio emergencial. Felizmente, ter uma moto lhe permitiu conseguir um bico como entregador de pizza, e assim seguiu a vida, como parte de uma massa que jamais pôde se dar ao luxo de ficar indefinidamente em quarentena.

Nas últimas eleições municipais, fez questão de anular os votos para prefeito e vereador. Evitou conversar com qualquer candidato, não quis saber de nada que lembrasse política. Disse para si mesmo que não apostaria 50 centavos no futuro da cidade. Sentia muita falta da parentada, estava doido pra ir embora também. E após o carnaval cancelado do novo ano, a oportunidade chegou.

Durante uma conversa noturna pelo whatsapp, o pai lhe garantiu que teria um trabalho engatilhado após a mudança, isso já estava resolvido. Só precisava comprar umas malas e se preparar.

Soube que uns três amigos também iriam, de carro, para a terra de muito pinhão, um deles retornando, os outros dois indo pela primeira vez, tal como ele. Acertaram partilhar os custos da viagem, e na data marcada, foi o último a embarcar. Olhou para a simples casa, agora fechada, que em breve seria vendida para um parente, e partiu para se aventurar numa terra distante, em busca do melhor.






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MARCADORES: AMANHECER EM PERUÍBE, AUXÍLIO EMERGENCIAL, MUDANÇA, MIGRAÇÃO, VIAGEM, SUL DO BRASIL, PANDEMIA, FEVEREIRO, 2021

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