terça-feira, 29 de agosto de 2023

COMERCIAL HISTÓRICO DO CALÇADO STARSAX : CAMINHANDO PELOS TRILHOS (O CONCEITO DE LIBERDADE DOS ANOS 80) - AGOSTO DE 2023



"Even the greater Stars..."


Eu era apenas uma criança pequena nos já distante anos 80, quando certo dia (tenho quase certeza que foi na Globo), vi o comercial acima, uns trinta segundos de pura liberdade, no sentido oitentista da palavra.

Nele vemos uma estação ferroviária, e três personagens em cena: um rapaz usando jeans, camisa polo e sapatos de couro (pois é, sapatos que em princípio não se destacam), um cachorrinho (que parece estar lá para indicar a tranquilidade do local), e um tiozão uniformizado, provavelmente o bilheteiro (que tal como o cachorrinho, não tem muito o que fazer no que parece ser um lugarejo no meio do nada). Em princípio, uma propaganda televisiva banal, parecida com aquelas que passavam nas manhãs de domingo da Globo, nos intervalos do "Globo Rural" e "Concertos para a Juventude", das quais pouquíssima gente se lembra. Mas a aparente precariedade da cena é enganadora.

O protagonista do "reclame" (interpretado por um ator boa pinta, do tipo que poderia facilmente ter feito um daqueles coadjuvantes que roubavam as mocinhas do Didi em quase todo final dos filmes dos Trapalhões, pois é), espera por um trem que parece estar atrasado. Ele olha para um lado, para o outro (o que não faz sentido, pois o trem só poderia vir de um lado, mas deixa pra lá), observa o relógio, pega a mochila e se levanta pra ir embora. O tiozão bilheteiro o olha com atenção, talvez lamentando que não venderá bilhete naquele dia, pois vemos que não tinha mais gente esperando pelo trem atrasado. Agora vem a melhor parte.

Quando o rapaz desce da plataforma, pisando num chão empoeirado (em câmera lenta), os sapatos (da marca Starsax) ficam em destaque, deixando a lição de como se faz um ótimo comercial.

Ele passa a caminhar pelos trilhos, sem pressa, como que sem destino, lembrando o doutor Bruce Baner na conclusão de cada episódio do Hulk, mas sem a triste musiquinha ... ah, esqueci de mencionar a música desta obra, embalada ao som da canção "The Hall Of Mirrors" (O Salão dos Espelhos) da até então desconhecida - para os brasileiros - banda alemã Kraftwerk.






Enquanto a canção misteriosa (para crianças que sequer tinham grana para comprar as famosas revistas com canções traduzidas, num tempo bem pré-internet), falava de autoconhecimento, o comercial nos falava de liberdade, no sentido físico da palavra. Sair por aí, cair no oco do mundo, em alguma grande aventura, digna de filme oitentista. Essa era a mensagem que o "calçado da geração jeans" passou para a molecada da época.


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