quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
JORNAL NACIONAL: SÃO VICENTE FERRER (MA) VERSUS SÃO FRANCISCO DO CONDE (BA)
São Vicente Ferrer (MA) sofre com menor PIB per capita do país
Cidade tem pouco mais de 20 mil habitantes, nenhuma indústria e 170 lojas. De cada dez moradores, sete vivem na área rural.
O IBGE divulgou o ranking das cidades de acordo com o PIB per capita, que é a soma de tudo que é produzido pela economia do local dividida pelo número de habitantes. O município que obteve o menor índice fica no Maranhão.
São Vicente Ferrer, a 280 quilômetros de São Luís, tem pouco mais de 20 mil habitantes, nenhuma indústria e 170 lojas, a base da economia na área urbana do município.
De cada dez moradores de São Vicente Ferrer, sete vivem na área rural. Boa parte depende da agricultura de subsistência, ou seja, planta basicamente para comer. E quando as coisas vão mal na lavoura, toda a cidade sofre as consequências.
O plantio de mandioca é a principal atividade na roça. "Quando a colheita não é boa, a gente tem dificuldade mesmo e a gente chega ao ponto de passar fome", conta o lavrador Carlos Martins.
Dois anos atrás, muita gente passou por isso. "Chegou a enchente, alagou e matou a colheita", lembra um morador.
"A gente vive disso, a gente tem os animaizinhos para dar ração, a gente planta para comer e sobreviver. Falhou, a gente tem prejuízo", diz outro morador.
Os problemas no campo estão entre os motivos apontados pelo IBGE para que o município maranhense tivesse o pior PIB per capita do país: menos de R$ 2 mil. O reflexo disso está espalhado pela cidade.
Em uma escola, os alunos já se acostumaram com a despensa vazia. “Não tem merenda. O jeito é ficar com fome”, conta um menino.
O transporte escolar é precário, em um ônibus a equipe de reportagem encontrou até um botijão de gás usado para escorar uma das portas.
“Não funciona pisca-pisca, velocímetro, buzina. É muito perigoso. Transporto entre 60 e 70 crianças”, diz o motorista.
No único hospital da região: “O médico deu uma saidinha. Ele mora aqui pertinho”, argumenta a atendente.
Enquanto a equipe esteve na cidade, a companhia energética cortou a energia da Secretaria de Saúde, onde funciona também o gabinete do prefeito João Batista Freitas: "Aqui não tem empresas. Aqui não tem fazendas. O cara ou tem um emprego na prefeitura, ou Bolsa Família ou aposentadoria e a agricultura é essa coisa toda aí".
Cidade tem maior PIB per capita do país, mas enfrenta muitas dificuldades
São os impostos recolhidos pela refinaria Landulfo Alves que dão a São Francisco do Conde (BA), de 32 mil habitantes, PIB per capita de mais de R$ 360 mil. Em 2009, o PIB local foi de R$ 11,4 bilhões, o 3º maior do estado.
A cidade com o maior PIB per capita do Brasil está na Bahia. Mas, na prática, esse resultado não significa muita coisa na vida dos cidadãos.
Em São Francisco do Conde, a 65 quilômetros de Salvador, está a refinaria Landulfo Alves, uma das maiores do Brasil. São os impostos recolhidos pela Relan que dão à cidade de 32 mil habitantes o mais alto PIB per capita do país, mais de R$ 360 mil. Em 2009, o PIB local foi de R$ 11,4 bilhões, o terceiro maior do estado.
A contradição é que, apesar da arrecadação de fazer inveja a muitos municípios, a população de São Francisco do Conde ainda não conseguiu fugir da pobreza. É uma cidade onde 45% dos moradores são atendidos por programas de transferência de renda do Governo federal e da prefeitura, segundo o IBGE.
Em um bairro com ruas de terra, vivem famílias como a de Dona Marineide, que mora com a filha e dois netos. Eles estão cadastrados em um programa social, mesmo assim, enfrentam dificuldades.
“A minha vida está uma situação triste aqui dentro de casa. Quem me dá umas coisas aqui são vizinhas, que me dão farinha, café, açúcar", revela.
O programa mantido pela prefeitura atende mais de 4 mil famílias e oferece cursos profissionalizantes. Desempregada, Josiane recebe R$ 430 por mês. "Eu não amamentei minha filha. Então, eu compro leite, o mingau dela. É uma boa ajuda mesmo", conta.
Ao todo, 20% dos moradores são servidores municipais. O secretário municipal da Fazenda, Marivaldo Araújo, diz que o quadro de funcionários não pode ser reduzido drasticamente porque há pouca oferta de trabalho. E culpa administrações anteriores pelo descompasso entre desenvolvimento e o dinheiro que entra nos cofres públicos.
"Durante muitos anos, a população e a qualidade de vida, a saúde, a educação, a segurança alimentar, que são tão importantes para a população, simplesmente não eram percebidas como prioridade", afirma.
Segundo a prefeitura, 80% das ruas são pavimentadas e o saneamento básico chega a 70% das casas.
O único hospital, que não faz cirurgias de alta complexidade, é mantido com recursos do município. Um centro de saúde da mulher será inaugurado na semana que vem e quatro escolas estão sendo construídas. Mas, quem vive na região espera mais da cidade com o maior PIB per capita do país.
"Ela já deveria e deve estar melhor do que o que está. A cidade é rica”, destaca a auxiliar de serviços gerais Marileide Santos.
"A minha esperança é que um dia isso acabe. Eu, como franciscano, quero ver minha cidade bonita", diz um morador.
Fonte dos artigos: JORNAL NACIONAL
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