segunda-feira, 31 de outubro de 2011
O BRASIL FOI DERROTADO NA COPA DO MUNDO DE 1950: E DAÍ ? QUANDO VOCÊS IRÃO SUPERAR ISSO, "AMANTES DO FUTEBOL"?
Nunca mais seremos campeões do mundo de 1950
Por Arnaldo Jabor
Meu amigo Paulo Perdigão morreu, há algum tempo. Era um grande crítico de cinema e louco por filosofia – Sartre, especialmente, de quem traduziu O Ser e o Nada.
Perdigão era idealista, angustiado, com manias intelectuais inusitadas, como por exemplo remontar "Shane", de George Stevens, de modo que ele próprio aparecesse na cena da porrada final contra Jack Palance, dentro do "saloon". Perdigão tinha um trauma: a Copa do Mundo de 1950. Seu pai, severo e seco, teve um gesto amoroso e levou-o pela primeira vez ao Maracanã para ver a decisão entre Brasil X Uruguai. Ele ali, fascinado, com 10 anos. Aí, o Brasil perdeu. A felicidade do passeio com o pai deu lugar à quase certeza de que ele, menino, ali, junto ao pai desesperado, era o "pé-frio", o culpado pela derrota. Passou a vida com esse sentimento de culpa, com essa obsessão, da qual tentou se livrar, escrevendo um conto genial e, depois, um livro sob essa famosa desgraça nacional. No conto, ele descobre uma máquina do tempo e volta ao passado para salvar o Brasil e impedir o gol de Gighia. Chega ao estádio, vê a si mesmo junto ao pai, ainda menino, consegue se infiltrar no campo e se posta atrás da trave de Barbosa, para avisá-lo do perigo e inverter a derrota em vitória. Ele sabe tudo, o minuto, o segundo em que Schiafino vai pegar a bola e passá-la para Gighia, que vai chutar em gol. Naquele exato momento, como planejado, ele grita para Barbosa: "Cuidado, Barbosa!" E a tragédia se consuma. Barbosa olha para o lado e a bola entra. A partir daí fica provado que ele era o culpado de tudo, nessa dobra do espaço-tempo que ele tentou iludir. O conto é maravilhoso, uma prefiguração brasileira de "Back to the Future".
Além do conto, Perdigão se obstinou nessa derrota de 50. Sabia cada lance, cada chute, examinando quadro-a-quadro as pobres imagens do jogo que existem nos vergonhosos arquivos nacionais. Logo depois, Perdigão desenvolveu uma teoria em seu interessantíssimo livro Anatomia de uma Derrota: de que o Brasil seria outro país se tivéssemos ganho "aquela" Copa "naquele" ano. Talvez não tivesse havido a morte de Getúlio nem a ditadura militar. É incrível e inteligente porque talvez ele tivesse razão.
Perdigão achava (e eu também) que as outras copas não chegaram a sarar as feridas daquele dia. A vitória em 50 teria sido essencial para o progresso nacional. Ele escreve: "Foi uma derrota atribuída ao atraso do país e que reavivou o tradicional pessimismo da ideologia nacional: éramos inferiores por um destino ingrato. Tal certeza acarretou nos brasileiros a angústia de sentir que a nação tinha morrido no gramado do Maracanã..." Ali, tínhamos perdido uma grande chance histórica. E aí ele diz a frase rasgada de dor: "Nunca mais seremos campeões do mundo de 1950!"
Não me levaram ao famoso Brasil X Uruguai em 50. Mas me lembro de meu avô, chorando e dizendo: "Só se ouvia o som dos pés das pessoas descendo as rampas. Ninguém falava. Só se ouviam os sapatos". "O silêncio era ensurdecedor" – esse foi o oxímoro de meu avô para descrever aquele dia. O silencio dos sapatos.
A partir desse dia, associei futebol e país numa "tabelinha" histórica. As taças de 58 e 62 marcaram um momento de abertura econômica e de progresso cultural jamais vistos: JK, Brasília, Bossa Nova, cinema, teatro, reformas populares em um país novo. Mas a esperança seria arrebentada em 64, pelo golpe. A Copa de 70 teve para mim um sabor amargo e doce, sob o sinistro sorriso do ditador Médici, legitimando a tortura e a morte de heróis. A taça de 70 foi outro oxímoro: uma "alegria dolorosa". Eu imaginava torturadores e torturados no "pau-de-arara", todos torcendo pelo Brasil. A vitória em 70 veio animar o torto "milagre brasileiro", que nos mergulhou em buracos de dívidas impagáveis.
Depois, vieram: a derrota das eleições diretas, a morte de Tancredo Neves, que teve o mesmo gosto de fracasso de "Brasil X Uruguai"; depois, os "anos Sarney", quando parecia que o Brasil nunca mais sairia do buraco, descrente até mesmo da liberdade, com a falência do Estado e a descoberta de que a "democracia real" não existia dentro das instituições, nos alicerces do país.
Depois desse período letárgico, com gosto de conto-do-vigário, os brasileiros convocaram o "bonapartismo narcísico" de Collor para "salvá- los" mais uma vez... O impeachment e os caras pintadas foram o "trailer" da vitória de 94, com o governo FHC raiando com "novas palavras". Quase no mesmo mês, derrotamos a inflação e viramos tetracampeões. Um novo tempo estava começando! Foi lindo!
E agora? O que vem aí até 2014? Parece tão longe... Fica cada vez mais difícil sincronizar o ritmo do mundo com as copas. As copas são lentas, vêm de quatro em quatro anos, e o tempo se acelerou, brutal e ávido. Se em 50 achávamos que a taça Jules Rimet nos salvaria da mediocridade, hoje vemos a Copa de 2014 como a fantasia de um país desenvolvido finalmente, com menos violência, corrupção, a República funcionando, as forças da nação mais conscientes. Como se disséssemos: "Ah... até lá tudo estará bem!" Será? Vivemos a Copa de 14 como uma utopia a ser realizada, organizados e respeitados. É esta nossa esperança. Há uma retomada da fantasia de 57 anos atrás. Dois mil e quatorze será nossa redenção? – pensamos. Ao pensar isso, ouço a voz de meu amigo Perdigão sentenciando nosso destino e acho que talvez ele esteja certo: "Nunca mais seremos campeões do mundo de 1950!"
Comentário: estamos em uma democracia, mas assim como o Arnaldo Jabor e outros futebolistas podem escrever a versão deles sobre fatos históricos, e posso discordar. Vejamos:
"..o Brasil seria outro país se tivéssemos ganho "aquela" Copa "naquele" ano. Talvez não tivesse havido a morte de Getúlio nem a ditadura militar. É incrível e inteligente porque talvez ele tivesse razão".
Ah, tá. O Getúlio era um futebolista frustrado. Por alguns anos ele aguentou a vergonha daquela derrota, mas uma noite ele se cansou ..... e PRATICOU SUICÍDIO. Coitado, ele não suportou mais. DÁ PARA LEVAR ISSO À SÉRIO???? E sobrou até para os militares de 1964. O que é que uma BOBAGEM, BESTEIRA E INUTILIDADE CHAMADA COPA DO MUNDO DE 1950, TERIA A VER COM O GOLPE CONTRA JOÃO GOULART?
A história do Brasil seria outra, se o Uruguai perdesse para "nós"? Francamente, a vida do goleiro Barbosa é que seria outra. Não faltam por aí uns dementes que até hoje odeiam esse senhor, já falecido, pois acham que ele foi culpado por essa "tragédia nacional". Essa gente tem o quê na cabeça? Trataram aquele homem como se fosse um pária, um inimigo da nação.
Essa análise histórica feita em mesa de bar, se baseia na idéia de que TODOS OS BRASILEIROS ADORAM FUTEBOL, idolatram o esporte bretão, e se sentiram derrotados em 1950. Isso é falso, tanto hoje como no dia daquele jogo. Vejamos um fato:
No dia 21 de abril de 1960 (cerca de uma década depois da Copa no Brasil) Brasília foi inaugurada. O então presidente Jucelino Kubitschek promoveu na prática a migração de milhares de trabalhadores para o que era na época um território inóspito, onde ergueram a nova capital brasileira. A maioria dessas pessoas vieram do nordeste, e era comum entre eles um enorme desconhecimento sobre o Brasil fora da caatinga.
Muitos desses "candangos" só foram saber que a sede do governo ficava em um distante Rio de Janeiro nos canteiros de obras, onde também conheceram o presidente da república, que várias vezes foi lá. Tiveram aulas de atualidades lidando com cimento e ferro. Se tantos desses trabalhadores só souberam que o Kubitschek existia por o verem lá no planalto central, é possível dizer que anos antes eles ficaram tristes com o resultado da Copa de 1950? Eles já sabiam que o futebol existia?
No início dos anos oitenta, em muitas cidades do sertão nordestino a eletricidade ainda nem existia. Os moradores dessas localidades tiveram conhecimento da derrota da seleção canarinho? Não falo apenas deles, mas de MILHÕES - isso mesmo - MILHÕES DE BRASILEIROS, que dispersos pela imensidão rural de um país que naquela data "fatídica", só tinha uma minoria da população vivendo em grandes cidades, as quais eram bem poucas. Meios de comunicação precários, estradas piores do que as atuais, analfabetismo elevado, muita gente vivendo no campo e isolada ..... é falso dizer que a maioria do povo desta nação tenha sido abalada devido ao gol que um tal de Barbosa levou .... A MAIORIA NEM SABIA QUEM ERA ESSE BARBOSA E NEM SABIA O QUE ERA FUTEBOL.
O Arnaldo Jabor devia ter estudado melhor história do Brasil antes de pensar em escrever esse delírio futebolístico. E futebol é apenas entretenimento, nada mais do que isso.
TAGS: PERUÍBE, PERUIBENSE, COPA DE 2014, ODEIO FUTEBOL
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