domingo, 20 de setembro de 2009

TEXTO DE UM PERUIBENSE ANÔNIMO

O texto abaixo foi escrito por um morador anonimo de Peruíbe, que fez um inteligente comentário, no dia 11 de setembro de 2009, na postagem


"Depois de 37 anos vivendo, pagando impostos e ralando na foice nessa cidade de Peruíbe e, talvez, pelo meu cacoete de geógrafo, acho que posso contribuir com alguma experiência de vida nessa discussão sobre qual cidade queremos ter.

Conheci Peruíbe com 10 mil habitantes, ruas de areia, a farmácia do seu Enéas, um posto safado de gasolina, um mercado de secos e molhados do Omuro, uns 120 telefones ofertados gratuitamente pela "Companhia Telefônica de Peruíbe" (acreditem, amigos, já houve isso...)um cinema com cadeiras de madeira, duas padarias, uma Avenida Pe. Anchieta sem calçamento, um Guaraú onde só se chegava com coragem e de jipe, o Balneário Oásis onde só se via palmeiras jerivás (daí o nome do balneário)e quase nenhuma casa. Era uma Peruíbe acanhada, pacífica e sem maiores traumas que a falta crônica de água nas poucas torneiras servidas. Quem não tinha água ia na bica do centro...Comprava-se peixe e camarão salgado na rua. De "grandioso" só havia aqui as Termas de Peruíbe, uma construção acanhada, mas cheia de promessas na cura pela lama negra e que faliu quando fiquei sócio. Pescava muito robalo no Rio Preto, e muito mais camarão sete barbas num simples arrasto de rede no final das tardes. Na praia do centro, diga-se de passagem. Enchia-se um balde com eles, para o terror das mulheres que tinham de limpá-los enquanto nós, os homens, balançávamos numa rede tomando cerveja meio morna que gelo era uma coisa difícil naqueles tempos. Não havia bandidos, nem polícia. Como as ruas eram só areia, não se usavam havaianas, só tamancos feitos de madeira produzidos pela heróica Tamancaria Santista que ainda existe lá no centro.

Bom, isso foi há 37 anos. Os tempos não voltarão jamais. Hoje,lidamos com radares, falta de estacionamento, flanelinhas, impostos astronômicos, bandidagem solta, muito comércio, orla urbanizada, praias poluídas, camarão importado do CEASA, etc, etc, etc. Temos de tudo um pouco e a cada hora que passa, mais um pouco.

Chegamos na hora da verdade sobre o que queremos de fato. Vocação turística !? Isso é conversa fiada pra boi dormir, isso não existe em lugar nenhum... Temos praias poluídas e muita mata protegida legalmente, nada mais. Temos mais de 140 pousadas e hotéis, mas não temos turistas. Temos um mar enorme na frente, mas não existem lanchas e barcos que o justifiquem como lugar de lazer náutico. Não temos sequer uma marina. Não temos nenhuma operadora de turismo, não temos gente capacitada na área, não temos política municipal para o incremento do turismo. Então...estamos como aquele menino com muita vocação para a medicina mas que acabou mesmo foi é trabalhando na quitanda da esquina.

Somos uma cidade feita de pessoas sem qualquer ligação com a história local. Não temos uma história para contar, não temos uma cultura local para defender, não temos uma tradição, uma festa própria, um artesanato, uma música, uma dança, nada. Somos apenas um condomínio municipal à beira do mar poluído e muitas lojinhas para gastar o nosso futuro."

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