terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sem Porto Brasil ferrovia Santos-Juquiá é novamente esquecida


Por Paula Batista Chaves de Lira


A questão da ferrovia Santos-Juquiá, desativada completamente há 6 anos voltou à discussão com o projeto do Porto Brasil, e os investimentos que seriam trazidos pela empresa LLX, tendo a necessidade da reativação da malha ferroviária para transportar a carga. No entanto, com as dificuldades de desenvolver o projeto, devido a questão indígena a LLX suspendeu os investimentos, deixando a ferrovia por enquanto esquecida.

Este, porém, não foi o único projeto para a reutilização da estrada de ferro, a Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM), elaborou há alguns anos o Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado, onde uma de suas ações seria o apoio ao aumento do uso ferroviário para o transporte de cargas e o uso do Veículo Leve sobre Trilhos, sendo aproveitado para fins turísticos. Por telefone o diretor técnico da AGEM, Paulo de Moraes disse que “na época que o projeto foi feito a ferrovia não estava privatizada, hoje é mais difícil já que ela pertence a concessionária América Latina Logística (ALL) e por enquanto só existiram propostas de reativação, mas a realização destes projetos está somente no futuro”. Paulo afirma também que “com a expansão da área do porto, a ferrovia pode voltar a funcionar, no entanto primeiramente o que voltaria seriam os transportes de cargas”.

Enquanto as propostas não se realizam, algumas cidades como Santos, Itanhaém e Peruíbe estão se preocupando em resgatar um pouco da cultura com a restauração das antigas Estações, trazendo para dentro delas um pouco da história e memória de cada cidade.

Com esse intuito o Instituto Cidade Cidadã (ICC) em parceria com a Prefeitura Municipal de Peruíbe criou um movimento chamado “Amigos da Estação” com o objetivo de difundir a cultura e a história peruibense, aproveitando o espaço para criar o Arquivo histórico municipal. O Secretário-Executivo e de Relações Institucionais do (ICC), José Marcio Cunha afirma que “infelizmente das cidades da região Peruíbe é a mais frágil em questão de memória histórica, por isso o Instituto fez essa parceria com o objetivo de divulgar o patrimônio histórico e cultural, colocando a disposição da população documentos que lhes sirvam de pesquisa”.

Segundo a historiadora do Departamento de Cultura de Peruíbe, Fátima Cristina Pires “a documentação do arquivo será de órgãos públicos e privados contando um pouco da história da cidade”. Ela acrescenta que “esporadicamente poderão acontecer no local algumas exposições dentro do contexto histórico”. Fátima também explica que a restauração começou em 01 de julho de 2008 e que a obra precisa ser feita em etapas, já que depende da aprovação e liberação de verbas da Caixa Econômica Federal, o plano era que fosse finalizada no último dia 28 de agosto, quando a Estação completou 95 anos, mas agora não existe previsão para o término da restauração.

A importância desta ferrovia era tamanha que a rodovia foi construída paralelamente a ela, no entanto coberta pelo mato, ou escondida entre casas irregulares, o barulho típico dos trens foi sendo esquecido. Com quase um século de existência a ferrovia Santos-Juquiá inaugurada em janeiro de 1914, na época em concessão da Southern São Paulo Railway, foi responsável pelo desenvolvimento da região e por 89 anos serviu como transporte de passageiros e cargas. Hoje, a ferrovia fica apenas na memória de alguns que utilizaram o transporte, com uma extensão de 161,5 km de puro abandono.
Cecília Ramos dos Santos, 75 anos, moradora de Peruíbe há 32 anos, lembra com saudade das passagens dos trens “quando ouvia o apito todo mundo parava o que estava fazendo para ver o trem passar, as viagens eram muito gostosas, podíamos ir apreciando a paisagem”. Cecília relembra ainda que “na época não tínhamos muita opção, para sair da cidade era ou indo de carroça seguindo pela praia ou de trem, apesar dos trens não estarem em bom estado, é uma coisa que a gente sente saudade, afinal ficou uma tristeza quando ele parou de circular, já que sabíamos que aquela hora era a hora do trem”.

FONTE  BLOG IMPRESSÕES

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