Quinta-Feira, 31 de Dezembro de 2009
Cachoeira com acesso ilegal lota de turistas
Decisão judicial não impediu entrada de 1,6 mil em parque da Jureia
Rejane Lima, ENVIADA ESPECIAL
Mais de 1.600 pessoas estiveram ontem na Cachoeira do Paraíso, no litoral sul. O local faz parte da Estação Ecológica Jureia-Itatins, que desde domingo teve o acesso proibido por uma decisão judicial.
O governo estadual, responsável pela área, descumpre a medida, como informou ontem o Estado. Numa tentativa de abrandar a decisão, preparou um portaria que limita o acesso ao parque. Monitores teriam de acompanhar grupos de, no máximo, 30 pessoas, e haveria senhas para tomar banho na cachoeira. Segundo nota divulgada ontem pela Fundação Florestal, órgão do governo, "o documento foi assinado hoje (30) pelo diretor-executivo da Fundação Florestal, José Amaral Wagner Neto, e enviado para a administração da Estação Ecológica".
A cachoeira fica no Parque do Itinguçu. Cerca de 4 mil visitantes são aguardados para o dia 2 de janeiro, pico da temporada no local. Os visitantes, muitos deles turistas que passam a semana do réveillon no litoral sul, desconheciam a proibição.
Morador de Sorocaba, o professor de história Diogo Comitre, de 24 anos, aproveitou a semana que passou em Peruíbe para conhecer a cachoeira e elogiou a exploração sustentável do local, mas disse se preocupar com o impacto ambiental de tantos turistas. Ontem, dois monitores orientavam os banhistas sobre as práticas ecologicamente corretas. Na entrada para a trilha de 500 metros que leva até a cachoeira, um guarda-parque dava as orientações e proibia a entrada de latinhas, cigarros ou alimentos.
"Não pode entrar nada que é descartável", explicou o monitor ambiental João Paulo Barbosa de Souza, de 26 anos, que há dois anos presta serviço à Fundação Florestal. No entanto, Souza admite que algumas pessoas tentam burlar as regras e acabam sujando o espaço. "Hoje eu recolhi uma fralda descartável que deixaram na pedra, mas isso é raro, assim como o cigarro. O mais comum é as pessoas perderem um dos chinelos no rio e acabarem abandonando o outro pé." Ele diz que todos os dias faz uma varredura na área recolhendo os objetos deixados.
Nascido na comunidade, Souza fez curso de primeiros-socorros e recebe salário de R$ 600 para atuar como guarda-vidas na cachoeira. Ele lamenta que haja restrição no número de visitantes ao local e conta que, fora o seu salário, o sustento de toda a sua família vem da venda de lanches aos turistas.
"O povo daqui depende disso. Eles ganham na temporada para viver o resto do ano. Minha mãe trabalha com barraca de lanche desde 1986, quando isso aqui virou Estação Ecologia e não pudemos mais plantar. Antes tinha plantação de banana. Aqui havia 18 mil pés", lembra o monitor Reginaldo Queiros, de 25 anos, que trabalha no local há cinco anos.
Para ele, a conscientização ambiental das pessoas aumentou. "Antes tinha gente que queria vir aqui fazer churrasco, subir com isopor. Agora a gente recolhe só papel de bala de vez em quando", conta.
Segundo a administração do local, as visitas monitoradas devem começar hoje. "Estamos nos adequando, a partir de amanhã (hoje) haverá monitores em toda a trilha e vamos fazer colocar um vídeo sobre a estação para as pessoas assistirem antes de visitar a cachoeira", diz a coordenadora do Núcleo Itinguçu, Jeannette Vieira Geeneen, que organizou uma reunião entre a Fundação Florestal, Polícia Militar Ambiental e comunidade. Segundo ela, a exibição do vídeo é uma maneira de tentar triar a visitação. Em nota, a Fundação Florestal também informou que já realiza o controle dos visitantes por meio da portaria da estação e também da catraca para a cachoeira.
"Antes pingar do que secar. Se isso aqui fechar de vez, todo mundo morre de fome", diz o comerciante Orlando Vitor de Lima, de 29 anos. Ele, o pai e 11 irmãos trabalham em uma das lanchonetes na entrada da trilha. "Eu nasci aqui e vivia da roça, daí veio lei da Estação Ecológica e a gente não pode mais plantar. Passamos a explorar o turismo e agora querem acabar com isso. Falam em lei, mas para a gente aqui não tem lei. Não tem luz, esgoto, telefone."
FONTE ESTADÃO ONLINE
Cachoeira com acesso ilegal lota de turistas
Decisão judicial não impediu entrada de 1,6 mil em parque da Jureia
Rejane Lima, ENVIADA ESPECIAL
Mais de 1.600 pessoas estiveram ontem na Cachoeira do Paraíso, no litoral sul. O local faz parte da Estação Ecológica Jureia-Itatins, que desde domingo teve o acesso proibido por uma decisão judicial.
O governo estadual, responsável pela área, descumpre a medida, como informou ontem o Estado. Numa tentativa de abrandar a decisão, preparou um portaria que limita o acesso ao parque. Monitores teriam de acompanhar grupos de, no máximo, 30 pessoas, e haveria senhas para tomar banho na cachoeira. Segundo nota divulgada ontem pela Fundação Florestal, órgão do governo, "o documento foi assinado hoje (30) pelo diretor-executivo da Fundação Florestal, José Amaral Wagner Neto, e enviado para a administração da Estação Ecológica".
A cachoeira fica no Parque do Itinguçu. Cerca de 4 mil visitantes são aguardados para o dia 2 de janeiro, pico da temporada no local. Os visitantes, muitos deles turistas que passam a semana do réveillon no litoral sul, desconheciam a proibição.
Morador de Sorocaba, o professor de história Diogo Comitre, de 24 anos, aproveitou a semana que passou em Peruíbe para conhecer a cachoeira e elogiou a exploração sustentável do local, mas disse se preocupar com o impacto ambiental de tantos turistas. Ontem, dois monitores orientavam os banhistas sobre as práticas ecologicamente corretas. Na entrada para a trilha de 500 metros que leva até a cachoeira, um guarda-parque dava as orientações e proibia a entrada de latinhas, cigarros ou alimentos.
"Não pode entrar nada que é descartável", explicou o monitor ambiental João Paulo Barbosa de Souza, de 26 anos, que há dois anos presta serviço à Fundação Florestal. No entanto, Souza admite que algumas pessoas tentam burlar as regras e acabam sujando o espaço. "Hoje eu recolhi uma fralda descartável que deixaram na pedra, mas isso é raro, assim como o cigarro. O mais comum é as pessoas perderem um dos chinelos no rio e acabarem abandonando o outro pé." Ele diz que todos os dias faz uma varredura na área recolhendo os objetos deixados.
Nascido na comunidade, Souza fez curso de primeiros-socorros e recebe salário de R$ 600 para atuar como guarda-vidas na cachoeira. Ele lamenta que haja restrição no número de visitantes ao local e conta que, fora o seu salário, o sustento de toda a sua família vem da venda de lanches aos turistas.
"O povo daqui depende disso. Eles ganham na temporada para viver o resto do ano. Minha mãe trabalha com barraca de lanche desde 1986, quando isso aqui virou Estação Ecologia e não pudemos mais plantar. Antes tinha plantação de banana. Aqui havia 18 mil pés", lembra o monitor Reginaldo Queiros, de 25 anos, que trabalha no local há cinco anos.
Para ele, a conscientização ambiental das pessoas aumentou. "Antes tinha gente que queria vir aqui fazer churrasco, subir com isopor. Agora a gente recolhe só papel de bala de vez em quando", conta.
Segundo a administração do local, as visitas monitoradas devem começar hoje. "Estamos nos adequando, a partir de amanhã (hoje) haverá monitores em toda a trilha e vamos fazer colocar um vídeo sobre a estação para as pessoas assistirem antes de visitar a cachoeira", diz a coordenadora do Núcleo Itinguçu, Jeannette Vieira Geeneen, que organizou uma reunião entre a Fundação Florestal, Polícia Militar Ambiental e comunidade. Segundo ela, a exibição do vídeo é uma maneira de tentar triar a visitação. Em nota, a Fundação Florestal também informou que já realiza o controle dos visitantes por meio da portaria da estação e também da catraca para a cachoeira.
"Antes pingar do que secar. Se isso aqui fechar de vez, todo mundo morre de fome", diz o comerciante Orlando Vitor de Lima, de 29 anos. Ele, o pai e 11 irmãos trabalham em uma das lanchonetes na entrada da trilha. "Eu nasci aqui e vivia da roça, daí veio lei da Estação Ecológica e a gente não pode mais plantar. Passamos a explorar o turismo e agora querem acabar com isso. Falam em lei, mas para a gente aqui não tem lei. Não tem luz, esgoto, telefone."
FONTE ESTADÃO ONLINE
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