A famosa OVA de Mikasa Ackerman, na qual ela imagina um mundo alternativo, onde os pais dela e de Eren estão vivos, e Shiganshina jamais foi destruída pelos titãs, mostra a paixão da garota pelo protagonista. O que impressiona é a inocência do sentimentos dela, que só quer estar ao lado de Eren, o que neste mundo desregrado, tem sido visto por muitos como algo bizarro. Num tempo em que o amor romântico está tão desprestigiado, essa personagem de mangá/anime é praticamente uma radical inconsequente, uma clara ameaça à uma certa (des)ordem estabelecida (que busca normalizar comportamentos imorais), tida hoje como "normal", principalmente entre parcelas barbarizadas da população global.
Mikasa em cena da OVA
As feministas odeiam Mikasa, pois para elas, nenhum homem merece tanto amor. E a situação piora, em se tratando de Eren, que na idade adulta se torna um tradicional herói (ou vilão) galã, forte, viril e corajoso. Como destruir o patriarcado, com mulheres fortes como ela "perdendo tempo" amando e apoiando homens que protagonizam e se destacam, ocupando um espaço que "deveria" ser de alguma mulher? Pior: é evidente que preserva a virgindade para o amado, o que ofende mulheres "vividas" e "experientes", as quais lutam pela normalização de comportamentos desregrados, e não podem aceitar dissidências, mesmo de uma moça inserida num universo ficcional distópico e politicamente incorreto, o que incomoda um bocado as "progressistas".
Basta dizer que pela transloucada lógica feminista, o conflito Marley versus Paradis já teria sido resolvido, se as mulheres, e apenas elas, estivessem cuidando da política nas duas nações, por terem mais "sensibilidade". Claro que isso não faz o menor sentido, considerando o destaque e a influência de personagens como Historia (a rainha da "paradis" toda, e provável futura mãe da Ymir/deusa reencarnada), a recém falecida Hange (tão importante na descoberta da verdade sobre os titãs), e oponentes como a Annie (a infiltrada e perigosa titã fêmea), Gabi (que matou a Sasha e chama os eldianos da ilha de "demônios"), além de muitas outras. SNK não é uma obra, digamos assim, conservadora (mesmo sem conter ecchi e outras apelações), mas seus personagens humanos nunca foram motivados por discursos lacradores, o fator motivacional predominante sempre foi o da luta pela sobrevivência, individual e coletiva, os conflitos descritos giram em torno disso. Aliás, a presença de mulheres na tropa de exploração jamais ocorreu por "emponderamento feminino", mas por causa da elevada mortalidade dos membros dessa divisão militar, o que também explica a baixa idade dos recrutas, de ambos os sexos.
E agora, no capítulo 132 (Asas da Liberdade), Mikasa não perde a esperança de fazer com que o protagonista encerre a tragédia que está provocando. "Vou trazer ele de volta, ele só foi um pouco longe demais", disse, numa breve conversa com a ex-inimiga Annie.
Mikasa, a otimista
Por causa dessa frase, a Ackerman tem sido bombardeada. A otária, trouxa, a "gada", e outros impropérios, tem sido usados contra ela. Muitos apostam em sua morte, caso tente "salvar" Eren, o que eu duvido. Digo que o ponto alto dela em SNK será em breve, não se limitando a matar o radical Yagerista Floch. Mas não importa o quanto o papel futuro dela seja importante e fundamental, ela não pode ser "gada" e pronto, o que acho estranho, pois o próprio discurso feminista defende que a mulher faça as próprias escolhas, e numa sociedade como a nossa, em que é comum jovens da periferia buscarem namorados em presídios, ou se perderem na luxúria nos famigerados pancadões, as escolhas morais dela estão muito acima de uma imoralidade hoje tão banalizada, e que francamente prejudica tremendamente o sexo feminino.
E termino este artigo, apenas dizendo que torço para que Mikasa, a última romântica, tenha um final feliz, independente das asneiras dos problematizadores.
MARCADORES: SHINGEKI NO KYOJIN, ATTACK ON TITAN, TITÃ DE ATAQUE, MANGÁ, ANIME, CAPÍTULO 132, ASAS DA LIBERDADE, MIKASA ACKERMAN, EREN JAEGER, AMOR, ROMANCE, IDEOLOGIA, SETEMBRO, 2020