terça-feira, 29 de junho de 2010

Enchentes no nordeste: o desespero se espalha entre os flagelados



Tentativas de suicídio em cidades afetadas pelas enchentes aumentam

O desalento começa a ocupar o espaço da urgência pela sobrevivência nas cidades mais atingidas pelas chuvas em Alagoas. Após o choque inicial da tragédia, as pessoas estão se dando conta de que suas vidas não voltarão ao normal. Começam a surgir casos de tentativas de suicídio e mortes por doenças agravadas pelo estresse, como infartes. Desavenças com as autoridades se intensificam.

Em Santana do Mandaú, foram duas tentativas de suicídio nos últimos dois dias. Na semana passada, houve um infarto fulminante, e duas grávidas pariram filhos mortos. Em Branquinha, a população perdeu não só as casas, mas sua noção de cidade. O centro comercial, instituições e os prédios públicos foram levados pelas águas.

— Como vou fazer pra receber o Bolsa Família? Minha vida não tem mais sentido — gritava, aos prantos, a moradora Zumira dos Santos, inconformada com a destruição do prédio federal que realizava o pagamento do benefício.

— A cidade está com os nervos a flor da pele. Já pedi para contratar dez psicólogos, para ficar por aí, conversando com a população — afirmou a prefeita Renata Moraes.

Em União dos Palmares, começa a ficar tenso o clima com as autoridades. O estopim foi o início das discussões para a transferência das vítimas, alojadas em escolas, para acampamentos em locais distantes. Os desalojados, porém, temem que o acampamento se torne uma solução permanente.

— Não podemos ir pra outro lugar, sem garantia de que haverá reconstrução das casas — disse Gilvan Alessandro, umas das 800 pessoas que dormem na escola Clóvis de Barros.

Quando há sol, as pessoas colocam suas fotos para secar, na tentativa de resgatar suas histórias. A vontade de ter um lar faz com que muitos abandonem abrigos e voltem para casas comprometidas.

Em Santana do Mandaú, não é incomum ouvir pessoas dizendo que não existem mais, que perderam RG e título de eleitor. O cartório local foi destruído, e as certidões de nascimento da cidade, levadas pelas águas.


 Fonte:Prefeitura de Branquinha


Comentário: a foto da postagem é de voluntários trazendo para a cidade de Branquinha doações arrecadadas pelo SOS ALAGOAS. Formam um grupo esforçado, corajoso, que demonstra um esforço legítimo em ajudar o próximo. Existem tipos por aí, que dizem seguir "grandes princípios", que consideram um horror a prática da caridade, pois enxergam nela uma forma de humilhar os necessitados. Para eles o problema está no "sistema" (leia-se capitalismo), e com o fim desse "sistema", não existiriam mais esses necessitados, pois todos estariam protegidos pelo grande provedor chamado GOVERNO.

Na história do século XX não faltam governos que se diziam "progressistas", mas que pisaram violentamente na bola com as massas.  Na URSS dos anos trinta morreram milhões de fome, bem ao contrário dos EUA, afundado na depressão (mas na URSS sem capitalismo foi muito pior...vai entender !!!); outros milhões foram vítimas de inanição na China maoísta e mais recentemente, a Coréia do Norte, com o seu regime político que "libertou os trabalhadores da opressão imperialista",  perdeu população devido a falta grave de alimentos. 

Claro, caridade é coisa de burguês com dor na consciência, de cristão querendo pontos no céu. O que se necessista é de um ESTADO PROVEDOR, que cuide das necessidades de todos. Sei que tem quem ache que a ajuda aos flagelados no nordeste deveria se condicionar a ação governamental. Então tá, quem está acompanhando mais essa tragédia brasileira sabe da demora e da ineficiência das autoridades, sejam essas municipais, estaduais e FEDERAIS. Vamos cruzar os braços e deixar que os governantes CUIDEM DE TUDO. Aquele povo que se vire, pela lógica de pessoas que adoram falar de "bons princípios".

Basta ver a notícia desta postagem, que cita o sofrimento emocional de milhares, os quais já não enxergam um futuro. Já passei por isso, sem precisar de enchente. A perda de esperança, impotência, a humilhação, é tudo muito duro. Viver em um ambiente tão trágico alimenta o ressentimento e a prática da violência. Não dá para esperar pelas decisões de políticos que se acham salvacionistas, é preciso se agir, de acordo com as nossas possibilidades.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Festival Gastronômico Show & Sabor em Peruíbe / 2010




A Prefeitura de Peruíbe, por meio do Departamento de Turismo está organizando o Festival de Inverno, com a abertura oficial do Festival Gastronômico Show & Sabor, que inicia no dia 2 de julho. Este ano a gastronomia peruibense traz uma surpresa aos munícipes e turistas, pois além de conhecerem os diversos restaurantes a la carte do município, será apresentado o prato turístico de Peruíbe, que terá seu lançamento junto a abertura do evento.

Na quarta edição do festival gastronômico de Peruíbe doze restaurantes estão participando, entre eles:


  • Restaurante A Toka do Lula - É a kara do kara
  • Restaurante Beer Uta - Cada um no seu quadrado
  • Restaurante Beira Mar - Abadejo ao Camarão
  • Restaurante Bolinho de Bacalhau - Bacalhoada
  • Restaurante Brisamar - Catupiranga de Camarão
  • Restaurante Escondidinho´s - Chapa de Picanha
  • Restaurante Leblon - Alcatra à Leblon
  • Mamma Lina (Pizza na Pedra) - Meca à moda
  • Pão de Maçã Pães e Gastronomia - Capeline ao limone com tiras de pescada
  • Restaurante do Epa - Tilápia à moda do Epa
  • Restaurante Pier Gaivotas - Tainha ao Pier
  • Restaurante Turístico - Picanha Brasileira
No sábado (3) haverá show do cantor sertanejo Renny Ribeiro e no dia 4 a apresentação do Coral do Servidor Municipal de Peruíbe, em comemoração ao segundo aniversário. Isso é apenas o começo da programação do Festival de Inverno que ainda contará com a Festa do morango, a Festa Reggae e muitas outras atrações culturais.

O Festival Gastronômico se encerrará juntamente com a programação de inverno. Então, não perca as dicas de culinária que este evento oferece a você. Assim, poderá traçar um roteiro gastronômico para toda a família. O Festival de Inverno acontecerá durante todos os finais de semana de julho até o dia 1 de agosto, no Espaço Cultural Chico Latim, localizado na Avenida São João s/n, no centro da cidade, com apresentação a partir das 20 horas.

Peruíbe se prepara para o lançamento de prato que irá representar a cidade

O Departamento de Turismo, convidou o chef João Carlos Demarco, diretor da Associação Brasileira de Gastronomia, Hospitalidade e Turismo e do Departamento de Qualidade no Atendimento ao Turista da AMITur (Associação dos Municípios de Interesse Turístico), ambas do Estado de São Paulo, para desenvolver um prato, utilizando ingredientes típicos da cidade para ser símbolo da gastronomia de Peruíbe.

Para o lançamento do prato o chef ministrou um curso em cinco dias, em abril, para restaurantes que se inscreveram. Para a escolha dos ingredientes que compõem o prato representante da cidade, foi realizado um trabalho de pesquisa, com estudo sobre a cultura local. A viabilidade, o acesso a cada um deles durante todo o ano e o custo também foram levados em conta.

Durante curso chef destacou que funcionários bem preparados são fundamentais para a qualidade do atendimento e faz parte da gastronomia, que é tudo aquilo que leva ao prazer da boa comida.
 
Fonte: MOGIANO.COM

Comentário: é uma boa iniciativa para o nosso turismo esse Festival Gastronômico. Mas não basta criar um prato que seja, digamos assim, a cara da gastronomia peruibense, se esse não for divulgado em outros eventos, não apenas naqueles realizados em regiões metropolitanas, como a Baixada Santista.

Pode ser algo que Peruíbe poderia apresentar em uma futura EXPOVALE, a qual cresce em importância. Peruíbe precisa deixar de dar as costas a eventos que, embora pareçam de pouca expressão, podem contribuir em muito para que este município conquiste um maior espaço, de acordo com as suas características.

EXPOVALE sem Peruíbe

Existe prefeito que, se ficar de quatro num pasto e sentir o gosto da grama, não levanta nunca mais...




Destruída em 1969, São José da Laje (AL) ignora proibição de construir à beira do rio e revive tragédia

Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em São José da Laje (AL)
 

Quando o nível do rio Canhoto começou a subir no fim da tarde da sexta-feira, 18 de junho, os moradores de São José da Laje inevitavelmente lembraram da enchente de 1969, maior tragédia – em número de mortos – já registrada em Alagoas.

No dia 14 de março daquele ano, após a festa do padroeiro da cidade, São José, o nível do rio Canhoto subiu de forma rápida e silenciosa. Eram por volta das 2h da manhã quando os cerca de 12 mil moradores à época se depararam com uma cidade completamente inundada.

Segundo dados da prefeitura, 1.264 casas foram destruídas e cerca de 1.200 pessoas morreram naquele ano. O número de vítimas nunca pôde ser precisado, já que boa parte dos corpos nunca foi encontrada. O motivo daquela tragédia foi o mesmo de 2010: chuva em excesso na cabeceira dos rios, no agreste setentrional de Pernambuco.

A diferença é que, apesar dos 5.200 desabrigados ou desalojados, ninguém morreu. Mesmo assim, duas pessos desapareceram e 386 casas foram destruídas e mais de mil ficaram danificadas. Os moradores afirmam que o nível da água este ano superou a marca de 41 anos atrás.

Ex-prefeito proibiu construções  

Vice-prefeito em 1969, Osvaldo Timóteo, 80 anos, contou ao UOL Notícias que a tragédia trouxe lições. Eleito prefeito seis meses após a enchente, ele foi o responsável pela reconstrução da cidade e conta que tomou medidas para melhorar a área urbana e oferecer segurança aos moradores.

“Eu baixei um decreto em 1970 e proibi qualquer construção naqueles locais onde o rio alcançou. Fiz o novo centro em uma parte alta, pensando no futuro, com ruas largas. Dividi a cidade em três centros: o comercial, o administrativo e o residencial”, explicou.

Mas segundo ele, a lei não foi levada a sério pelos governantes seguintes e as construções foram voltando. “Só aconteceu destruição aqui este ano porque prefeitos que me sucederam deixaram construir de novo na área que proibi. Se tivessem respeitado o decreto, ninguém tinha perdido nada, como foi o nosso centro aqui em cima, que não teve nenhum prejuízo. Mesmo assim, salvei muitas vidas em 2010 com aquele decreto”, disse Osvaldo.

O ex-prefeito explica que, ao contrário daquela tragédia, a enchente dos rios em Alagoas desta vez aconteceu durante o dia. “Em 1969 a cidade dormia depois de uma festa. Estava escuro, não deu para ver. Eu perdi tudo, tive o terceiro maior patrimônio destruído entre todos da Laje”, explicou.

Segundo ele, apesar da desolação que atingiu municípios como Branquinha, Santana do Mundaú e Quebrangulo, que tiveram mais de 60% das áreas urbanas destruídas pelas águas, é possível reconstruir uma cidade e aproveitar o momento para planejar um município melhor. “Dou sempre o exemplo de que é possível reconstruir para aprimorar. A Laje até hoje é uma cidade moderna para os padrões da região”, gaba-se o ex-prefeito.

Relatos da tragédia


Em 1969, segundo relatam os jornais da época, 10% da população morreu e mais de 50% ficou desabrigada com a cheia. “Quando acordamos às 2h da manhã, a água estava com quase um metro dentro de casa. Não teve como salvar nada. Nós sobrevivemos porque tinha um caminhão parado na frente e subimos nele”, relatou Núbia Cardoso, que tinha oito anos à época da tragédia.

Ela conta que das 11 pessoas que moravam na casa ao lado, apenas uma escapou com a vida. “Seu Juvenal ficou preso a um portão e conseguiu sobreviver por isso, mas ele perdeu os 10 filhos. Ele morreu pouco depois por cachaça. Ele não parava de chorar lembrando”, contou.

Segundo as testemunhas, o nível do rio atingiu o auge por volta das 3h da manhã. “Não teve bombeiro, polícia, nada que veio nos ajudar naquela hora. A cidade apagou e ninguém conseguiu salvar nada”, contou o aposentado Joaquim Lopes, 66.

A jornalista Eliane Aquino era criança quando a tragédia aconteceu, mas não esquece as imagens da tragédia. Ao lembrar daquele dia, ela comparou as cenas da Laje com as do filme Titanic. “Os corpos boiavam, todos estavam desesperados, gritavam com a força da água. Foi uma coisa horrorosa, só mesmo um filme para retratar aquela história”, afirmou.

Na sexta-feira 18, a lembrança da tragédia foi inevitável para quem teve a casa inundada novamente. “Meu filho de 13 anos perguntou: ‘mãe, nós vamos morrer’. Foi o pior momento. Ficamos ilhados na varanda por várias horas”, afirmou Núbia Cardoso, assegurando que a enchente de 2010 foi maior que a de 1969.
Ao menos 28 municípios foram atingidos, dos quais 15 decretaram estado de calamidade pública e quatro estão em situação de emergência. Permanecem sem abastecimento de água as cidades de Branquinha, Murici, Paulo Jacinto, Capela e Jacuípe.

Fonte: UOL Notícias

 Vou repetir aqui o título da postagem, em letras maiores:

Tem prefeito que, se ficar de quatro num pasto e sentir o gosto da grama, não levanta nunca mais....

Não estou me referindo, é claro, ao ex-prefeito de São José da Laje, o senhor Osvaldo Timóteo, mas aos que vieram depois dele. Vejam só, eles subestimaram o perigo de UMA NOVA GRANDE ENCHENTE naquela cidade. Não deram a mínima pois o que lhes importava era a demagogia, agradar os moradores, tolerando a repetição de um antigo erro.

Se esse ex-prefeito não tivesse mudado o centro do município para uma área mais alta, a catástrofe poderia ser pior que a de Branquinha....e até com mais mortos. Ele proibiu novas construções, mas certos prefeitos...pois é. A notícia diz tudo por si mesma.

domingo, 27 de junho de 2010

Enchentes no Nordeste aumentam a miséria na área atingida / junho de 2010



Enchentes aprofundam pobreza e minam desenvolvimento em Alagoas e Pernambuco

Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Maceió  


As chuvas que atingiram 87 municípios de Alagoas e Pernambuco castigaram uma região marcada pela pobreza acima da média do Nordeste e que, por conta da destruição, passa a se caracterizar por um quadro de completa miséria. Ao todo, 51 pessoas morreram dos dois Estados e mais de 150 mil tiveram que deixar suas casas.

Segundo o economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cícero Péricles, os municípios atingidos pelas chuvas e enchentes possuem alguns dos menores IDHs (Índices de Desenvolvimento Humano) e rendas per capita do país.

“Essa região atingida é caracterizada por sua pobreza econômica e concentração de terras. A própria localização das casas, em áreas não indicadas para construção, reflete isso. O prejuízo maior chega pela redução de seus estoques de residências, pela diminuição de sua rede comercial e destruição de seus equipamentos públicos”, afirmou.

Para ele, a destruição vai além e freia, nessas cidades, uma retomada de crescimento econômico que acontece o Nordeste graças às políticas federais e de transferência de renda, como o Bolsa Família e aumento real do salário mínimo nos últimos anos.

“Aquele morador que ampliou a casa, ou que aumentou o ponto comercial, ou que investiu em um negócio, perdeu tudo. Essas pessoas deixam a situação de classe média baixa ou pobreza e passam a ingressar a miséria”, disse o economista.

Pobreza extrema
Mesmo localizados em Estados pobres, as cidades atingidas pelas cheias possuem por índices sociais e econômicos ainda mais baixos que o restante dos Estados. Em Pernambuco, que tem IDH de 0,705, os municípios de Cortês (0,582), São Benedito do Sul (0,549) e Barra de Guabiraba (0,554), que decretaram calamidade pública, são exemplos de pobreza extrenma e possuem índices bem menores que a média estadual.

Em Alagoas, a situação é ainda pior. Com o segundo pior IDH do país (0,649), os dois municípios que perderam praticamente toda sua área urbana possuem IDH bem abaixo da média estadual e no final da lista nacional: Branquinha (0,513) e Quebrangulo (0,574).

Para Péricles, enquanto os demais municípios desses Estados vão seguir na recuperação dos índices, as cidades atingidas vão recomeçar praticamente do zero. “Essa tragédia deixa a região ainda mais pobre e dependente de recursos públicos. Todos os esforços nos próximos meses e anos serão dedicados não ao desenvolvimento de sua economia e superação de seus indicadores sociais, mas a reconstrução desse patrimônio perdido”, afirmou Péricles.

Com os comércios destruídos na maioria dos casos, as cidades perderam praticamente toda a renda que circulava no município, o que agrava ainda mais a pobreza. “A renda per capita dessas localidades reflete essa pobreza extrema: enquanto o Nordeste, a região mais pobre do país, apresentava, em 2007, uma renda per capita [anual] de R$ 6.748,81, Barra de Guabiraba tinha apenas R$ 2.997, São Benedito do Sul R$ 3.221; Quebrangulo com R$ 3.039 e Branquinha apenas R$ 2.844. Esses índices tendem a diminuir ainda mais”, disse.
 
O economista lembra que as regiões sul de Pernambuco e norte de Alagoas já possuíam infra-estrutura deficiente. “Neste sentido, o impacto das enchentes é muito grande, decorrente da destruição de trechos de estradas e pontes, queda de linhas de transmissão de energia elétrica e de torres de telefonia, assim como de partes da ferrovia, que liga Recife a Maceió, em processo recente de recuperação, já que está paralisada desde 2000”, afirmou o economista.

Péricles cita ainda que, apesar da grande destruição das áreas urbanas, o setor rural não foi atingido pelas enchentes, o que é um fato importante. “A produção agrícola, principal atividade econômica local, é beneficiada pelas chuvas dos meses de inverno. As unidades industriais da área são da cana-de-açúcar --usinas e destilarias-- que, à exceção de algumas localizadas no vale do Paraíba e Mundaú, não sofreram prejuízos e estavam com as atividades paralisadas devido à entressafra”, disse.

Ao menos 28 municípios foram atingidos, dos quais 15 decretaram estado de calamidade pública e quatro estão em situação de emergência. Permanecem sem abastecimento de água as cidades de Branquinha, Murici, Paulo Jacinto, Capela e Jacuípe.

Fonte: UOL Notícias

sábado, 26 de junho de 2010

Rodeio Fest 2010 e a crítica do internauta Marcelo


O internauta Marcelo, visitante habitual do Blog, postou o texto abaixo. Eu nem estava interessado em falar do rodeio, mais um evento bobo que não gerará ganhos duradouros para a cidade. Deixo a bola para ele:

"Gostaria de fazer umas considerações sobre o Rodeio. Sabemos que não é o tipo de coisa que resolve o turismo em Peruíbe. Mas digamos que o objetivo fosse atrair turistas:

1º) Que sonoro, elegante, bonito que é falar ao turista: "Fica na Vila Erminda"

2º) Que grandes benefícios trará um evento em que o turista sequer precisa entrar na cidade, não vai conhecer nem o comércio, nem a praia, nenhum ponto turístico, nada. Coisa de gênio!"

Pois é, os visitantes que estiverem pela primeira vez na cidade, nem verão o resto dela. Mas tudo bem, segundo a Milena, o terreno, que pertence ao dono do Kartódromo, é de graça. Dá para economizar no aluguel do lugar, e torrar uma baita grana com o cachê do Jota Quest !!!

 Mas a Milena e colaboradores dirão que o comércio será beneficiado. Então tá, botem fé nisso, meus amigos que também pagam impostos aqui.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Coréia do Norte: o interminável drama da fome ajuda a livre iniciativa



A Coréia do Norte está passando, como tantas outras vezes, por mais um agravamento da escassez de alimentos. O próprio governo reconheceu o fracasso do seu programa de racionamento alimentar. Desde o final de maio, está sendo permitido o funcionamento dos mercados livres - onde as pessoas podem comercializar de forma "não-socialista" - por 24 horas, ou seja, não precisam fechar.

 Uma organização de direitos humanos chamada Good Friends informou essa decisão no dia 14 de junho. De acordo com a Good Friends, a orientação governamental foi resultado de uma decisão tomada em 26 de maio, o que permitiu que os mercados permaneçam abertos e que orienta os norte-coreanos para comprarem sua própria comida.

Tal ordem na prática reconhece que a escassez de alimentos continua a se agravar  nos últimos seis meses, em parte por causa da fracassada reforma monetária, a qual gerou insatisfação em um povo historicamente submisso as decisões do governo, o qual agora "lava as mãos", se desobrigando em continuar a fornecer rações para a população. Agora os mercados, antes vistos como ilegais, embora tolerados por necessidade, estão legalizados oficialmente. É a livre iniciativa se impondo e cobrindo o espaço de um poder estatal falido.


A distribuição de rações foi suspensa pelo governo em abril, em todas as províncias e até para todas as classes da sociedade, mesmo para os que residem em Pyongyang. A última distribuição foi uma cota prevista para durar 20 dias para cada norte-coreano, feita no dia 15 de abril, aniversário de nascimento do "grande líder"  Kim Il Sung.

Essas mudanças um aspecto positivo. É o fim, na prática, do monopólio estatal de todas as atividades econômicas, até então rigorosamente defendido pelo socialismo jucheísta. Já a alguns anos, os mercados vinham se impondo, embora sofrendo constantes restrições. Mas o pragmatismo derrotou o dogmatismo ideológico. Ou isso ou mais mortalidade em massa de norte-coreanos por inanição.


Trata-se de uma solução que deveria ter sido aplicada já nos anos noventa, logo após o falecimento do presidente Kim Il Sung, em 1994. A Coréia do Norte entrou naquele ano, no que a população do país chama hoje de a GRANDE TRIBULAÇÃO, um período de cerca de quatro anos que teve no mínimo um milhão de mortos por causa da fome. Fala-se até em três milhões, mas os números exatos são desconhecidos.

 Nessa época, ficou famosa a cena na qual uma apresentadora da TV norte-coreana mostrou imagens de ervas daninhas "comestíveis", as quais, de acordo com a reportagem, podiam ser encontradas com facilidade em terrenos baldios. Era o alerta do início da catástrofe. Pessoas devoraram os próprios animais de estimação, passaram a caçar cobras, ratos e outros animais nas florestas, comiam as cascas e até o miolo das árvores. E ocorreram muitos casos de canibalismo, com ataques a cadáveres e até assassinatos para o consumo de carne humana.

Foi uma tragédia construída por má gestão econômica, secas, enchentes e até pelo fato da área agrícola ser muito inferior a da Coréia do Sul. Grande parte do país é montanhoso, com invernos rigorosos, e possui apenas 16% do território com condições de cultivo.

Nos mercados é comum a venda de comida produzida na China, importada de lá, embora no princípio ela era contrabandeada. Dou um exemplo de como essa atividade começou. Foi assim:


Imaginemos, no final de 1994 (inverno), um jovem camponês, sem comida na sua cabana, e morador próximo da fronteira chinesa. Órfão (seus pais morreram em um campo de concentração, onde ele também ficou preso) e sozinho, resolve arriscar e atravessa o rio congelado que separa os dois países. Tinha uma namorada, mas ela não o acompanha, pois teme abandonar a família..


Do outro lado, arruma emprego na fazenda de um coreano étnico, ou seja, um Chinês da etnia coreana, que vive do outro lado da fronteira. Consegue um lugar para morar e alimento. Trabalha apenas por abrigo e comida. Passa o inverno lá e garante a sobrevivência. Na primavera, resolve voltar para a aldeia em que morava, para ver como estavam as pessoas que conhecia.


O cenário é de horror. Muita gente morreu, sendo que vários corpos foram devorados pelos poucos vivos, que estão desnutridos e sempre esfomeados. As autoridades não garantem uma distribuição regular de rações. O rapaz compreende que se ficar poderá morrer também, e resolve voltar para a China, acompanhado da magra namorada, que não quiz ir com ele, e viu a família toda falecer. Do outro lado, tentam continuar com as suas vidas.


Mas logo o rapaz pensa que talvez seja possível permanecer no próprio país. Ele houve falar de norte-coreanos que passam a trabalhar no contrabando, para sobreviver. Ele resolve recorrer a essa atividade, se juntando a uma quadrilha que leva comida para a Coréia do Norte. Ele e a namorada voltam, se casam, e se instalam na mesma aldeia em que viviam, com ele atravessando ocasionalmente a fronteira e ficando com uma fração dos produtos como pagamento. Meio sem saber, ele e a esposa vão se tornando mercadores, muito importantes em aliviar o drama da nação naquele período. Empreendedores motivados por uma rigorosa luta por sobrevivência, até odiados pelos governantes, embora necessários.

E agora as arrogantes lideranças do "paraíso dos trabalhadores" resolvem tolerar o empreendorismo, como forma de impedir a que os famintos, no limite da paciência, recorram a solução revolucionária para encerrar o pesadelo em que vivem.

E provavelmente por isso, que o regime estabelece outras formas de controle sobre a sociedade. Agentes de segurança pública começaram a confiscar facas, serras e outras armas que tenham mais de 9 centímetros de comprimento, em um esforço para conter o assassinato e outros crimes violentos. Veremos no futuro o resultado dessas mudanças.

Fonte de algumas das informações para elaboração desta postagem : Blog do Leonid Petrov

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Prefeita de Branquinha fala da reconstrução da cidade



A imagem acima é uma foto da NASA (Agência Espacial Americana), tirada no dia em que teve início a recente catástrofe no Nordeste brasileiro. Vejam bem, os cientistas de lá igualaram o caos do evento aos terremotos no Chile e Haiti. Foram 400 milímetros de chuva que em um período de poucas horas,  o que provocou um rápido transbordamento nos principais rios da região afetada.

Sobre essa questão, vou seguir focando na tragédia de Branquinha, pobre município alagoano. Vai ficando evidente que se trata da cidade proporcionalmente mais devastada, e foco a minha atenção nela, pois vejo que será a localidade que mais dificuldades enfrentará para superar tanta tragédia.

Com todos os edifícios públicos destruídos, Branquinha conta agora com um hospital de campanha para atendimento médico urgente e uma prefeitura que funciona provisoriamente na casa da prefeita, onde cestas básicas estão sendo estocadas. Não existe água potável e eletricidade e quase todo o comércio desapareceu. Segundo a prefeita Ana Renata Freitas Lopes, a área urbana de Branquinha terá de ser reconstruída em outro local do município, o que tem muito sentido, pois o rio Mundaú não é novato em enchentes por lá.

Três corpos foram localizados na noite de terça, e a prefeitura afirma que existem 50 desaparecidos. Parece pouco, para uma população estimada em 11.796 habitantes, mas em uma localidade desse tipo, predominantemente rural, formada em grande parte por descendentes de sitiantes que lá se estabeleceram, no século XIX e princípio do XX, muitos são parentes entre si. Imaginem o tamanho do impacto emocional para milhares de pessoas, muitas delas neste momento quase que limitadas a terem apenas as roupas que vestem.

Vão aqui informações sobre como ajudar, do blog da branquinhense Ayres Regina:

Contas bancárias:
A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil disponibilizaram contas para doação às vítimas de Alagoas.

Caixa Econômica:
AGÊNCIA: 2735
OPERAÇÃO: 006
Nº DA CONTA: 955-6
NOME: CORPO DE BOMBEIROS MILITAR
Banco do Brasil:
Banco do Brasil - C/C 5241-8 / Agência 3557-2 
 Mais informações no link:
Lembrem-se da burocracia governamental. Enquanto o poder público demora, a ação popular pode resolver necessidades mais imediatas.

Recomendo o blog da Ayres Regina, bem atualizado da situação.

Município de Branquinha vive o pós-apocalipse / junho de 2010



"Nada restou da parte funcional. Não tenho uma folha de papel para fazer uma ficha de um doente"
Ana Renata da Purificação Moraes
Prefeita de Branquinha

A moça acima enfrenta agora o maior desafio da vida dela, o de liderar, literalmente, sobreviventes de um evento apocalíptico. Esse município até então desconhecido, chamado de Branquinha, terá de recomeçar do zero.

Prefeitura, escolas, posto de saúde e lojas foram destruídas. Nenhum prédio público ficou inteiro. Fala-se que 90% da zona urbana foi arrasada, como se o rio local, chamado de Mundaú, tivesse varrido a cidade como uma Tsunami.

Sei que nesse momento o rosto da prefeita está bem diferente do da foto, tirada em melhores dias, e provavelmente em um local que nem deve existir mais. É duro, pois para ela e aos seus munícipes não se trata de uma tragédia distante como a do Haiti, mas de algo que estão vivendo, experimentando, um evento que mudará radicalmente a história local, inclusive de todos os que sobreviveram.

Realizações arrastadas pelas águas, entes queridos que se foram, sonhos e projetos que serão abandonados definitivamente, e em breve, multidões de jovens partirão em êxodo na busca de existência digna em outras terras. O sofrimento do povo branquinhense está apenas começando.

Vamos ajudar essa gente. Poderia ser aqui. ALGO MUITO PARECIDO PODE OCORRER AQUI. Eu não esqueci da enchente de 1979. Nossos governantes esqueceram, eu não.

Pois bem, visitem o link da Prefeitura de Branquinha . Me parece ser o melhor site sobre o assunto, devido as constantes atualizações. Não se trata do único município atingido, mas de longe é o mais prejudicado. Sejamos solidário, assim como já fomos ajudados no passado....e poderemos necessitar de nova ajuda no futuro.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Branquinha, uma cidade brasileira destruída / junho de 2010

A prefeita de Branquinha, Renata Moraes, diz que a situação é desesperadora no município. A enchente levou escolas, posto de saúde, várias lojas do comércio e todas as secretarias da Prefeitura. "Não sobrou mais nada, estamos sem água, sem luz, sem comunicação nenhuma", contou.

O município foi atingido na tarde da última sexta-feira. A própria prefeita passou a noite de sexta até sábado pela madrugada em cima do telhado da casa dela. "Eu estava no telhado de casa, com 11 pessoas, em cima do telhado, ilhada. A casa do lado desabou e a do outro lado também. A gente ligou para os bombeiros, mas eu só consegui sair quando minha irmã chegou, com um bote", contou a prefeita.

Bastante desesperada, Renata Moraes disse que a população perdeu tudo. Só restaram as casas de dois morros, mesmo assim, o espaço é pequeno para tanta gente. "Nós temos três igrejas que estão lotadas. Eu não tenho mais local para colocar ninguém. Parece que passou um furacão pela cidade", desabafou. "Eu perdi o funcionamento da cidade. Como é que a cidade existe, se não sobrou mais nada", disse, chorando, a prefeita.

Renata Moraes ainda lembrou que, há cerca de um mês, no dia 18 de maio, quando foi comemorada a Emancipação Política de Branquinha, chegou a inaugurar um posto de saúde, uma escola, um tele-centro e ainda comprou carros para o município - "não sobrou nada. Hoje eu não consigo localizar nada por lá", disse a prefeita.

Números

Segundo os números da Defesa Civil Estadual, há 3.200 pessoas desalojadas e 1.000 desabrigadas em Branquinha. Ao todo, 8.000 pessoas foram afetadas pela enchente e três morreram.

A prefeita contou que ontem enterrou quatro pessoas e que já sabe de mais de dez desaparecidas. "O dono do mercadinho desceu com a enxurrada. A mulher dele está em Maceió, em pânico. Ela perdeu a casa, o comércio e o marido dela", contou.

Sobre os números, Renata Moraes disse que não tem ideia porque a situação ainda é precária em Branquinha.


O Corpo Militar Bombeiros de Alagoas (CBM/AL) está disponibilizando duas contas bancárias para receber doações destinados às vítimas das chuvas que devastaram 21 municípios alagoanos nos últimos dias. De acordo com dados da Defesa Civil, já são 19 mortos e cerca de 80 mil desabrigados e desalojados.

Os interessados podem depositar nas contas do Banco do Brasil Agência 3557-2 CC 5241-8 e na da Caixa Econômica Agência 2735 Operação 006 Conta 955-6. Doações de todos os valores serão aceitas.


Fonte: Prefeitura de Branquinha

Peruíbe e Ana Dias caminhando para a integração / junho de 2010



Ana Dias integrará Vale do Ribeira ao maior programa de saneamento do litoral

 

Sabesp planeja obra para tratar esgoto coletado no bairro em estação construída pelo programa Onda Limpa em Peruíbe


O pacato distrito de Ana Dias, em Itariri, surgido no início do século passado em torno da linha férrea Santos-Juquiá, integrará o Vale do Ribeira ao Onda Limpa - o maior programa de saneamento e recuperação ambiental do litoral brasileiro.

Na semana passada, o superintendente regional da Sabesp, Irineu Yamashiro, esteve em Ana Dias com o coordenador do Onda Limpa no Litoral Sul, engenheiro Marco Antônio Vieira Sampaio, para avaliar a possibilidade de integração do sistema de esgoto do bairro com uma das estações de tratamento recém inauguradas no município vizinho de Peruíbe.

A ideia é levar todo o esgoto coletado em Ana Dias para tratamento estação "Lama Negra", de Peruíbe, perto da divisa com Itariri. Para isso, serão aplicados recursos do Onda Limpa na construção de uma estação elevatória e no assentamento de 4 quilômetros de tubos. O prazo estimado para elaboração de projeto e execução da obra é de um ano.

O empreendimento possibilitará expandir a rede coletora de esgoto de Ana Dias, que hoje atende apenas 28% das residências do bairro e não pode ser crescer enquanto não houver garantia de tratamento do esgoto coletado. Após a interligação com a estação de Peruíbe, todos os domicílios de Ana Dias vão contar com coleta de esgoto.

"A integração com o Onda Limpa é uma solução criativa para o saneamento em Ana Dias", comemora o superintendente Irineu Yamashiro. Sem isso, a única alternativa seria construir uma estação de tratamento exclusiva para o bairro de 2 mil habitantes, o que exigiria um investimento alto em relação ao pequeno volume de esgoto a tratar.

O Programa Onda Limpa é uma das maiores ações de saneamento do Brasil e o maior projeto de recuperação ambiental já implementado no litoral paulista. São mais de 3,5 milhões de pessoas beneficiadas, com investimento total de R$ 1,47 bilhão e a geração de mais de 42 mil empregos diretos e indiretos. O programa conta com financiamento da Japan International Cooperation Agency (Jica).

Fonte : Monica Lima / Blog do Camilo Aparecido

 

 Comentário: Essa melhora estrutural que ocorrerá em Ana Dias não apenas proporcionará rede de esgoto para todas as residências da sua área urbana. Na prática ela justifica uma idéia, que foi cogitada nos anos oitenta, de que esse distrito itaririense deveria ser anexado a Peruíbe.

Peruíbe ganharia muito com esse crescimento territorial, pois aumentaria a sua área agrícola - aqueles imensos bananais se tornariam peruibenses - e poderia aumentar o seu potencial para a prática do turismo rural. Já os moradores de lá estariam integrados a um município que apesar dos problemas sociais conhecidos, está em melhores condições do que Itariri. 

E é claro, isso contribuiria para o lento porém contínuo processo de valeribeiralização de Peruíbe. 

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Charles De Gaulle e os setenta anos do Chamado do 18 de junho

Considero o líder francês Charles De Gaulle um dos mais importantes personagens do século XX. Sua recusa em aceitar a vitória da Alemanha em 1940 foi um ato heróico. Ele poderia seguir as suas idéias políticas, anti-republicanas e fortemente direitistas, e aderir ao colaboracionismo. Mas não, ele não podia suportar a afronta que a pátria sofrera, a presença alemã e o consequente sofrimento do seu povo.

O general De Gaulle, exilado em Londres, realizou no dia 18 de Junho de 1940, em um estúdio da BBC, um discurso histórico. Foi o ponto de partida para a criação do movimento FRANÇA LIVRE, formado no princípio por militares franceses resgatados em Dunquerque, aos quais se juntaram muitos outros, incluindo até estrangeiros que viviam em Paris e amavam aquela cidade. Desafiando os nazistas, colaboracionistas e até os próprios aliados, dizendo abertamente "eu sou a França", conseguiu uma vitória do nada.

O desembarque na Normandia não teria sido possível sem o apoio da resistência, e anos de seus esforços. Embora ela não tenha expulsado os invasores, impediu a consolidação do regime de Vichy, e uma consequente adesão da França ao EIXO, o que fortaleceria Hitler e poderia dar a segunda guerra mundial um final muito diferente.

As palavras que aqui reproduzo foram ditas a 70 anos por um personagem estraordinário, um protagonista da história da sua nação e do mundo:

"Os chefes que, desde a vários anos, estão no comando do exército francês, tem formado um governo. Esse governo, alegando a derrota do exército, estabeleceu comunicação com o inimigo para cessar os combates.


Por suposto, temos estado, e fomos superados pela força mecânica, terrestre e aérea do inimigo.

Infinitamente, mais que seu número, são os tanques, os aviões, a tática dos alemães o que nos fazem retroceder. São os tanques, os aviões, a tática dos alemães que têm surpreendido a nossos comandos, ao grau de levar à situação na que hoje se encontram.

Mas, essa é a última palavra? A esperança deve desaparecer? A derrota é definitiva? Não!

Creiam-me, a mim que lhes falo com conhecimento de causa e lhes digo que nada está perdido para a França. Os mesmos meios que nos venceram podem nos dar em um dia a vitória.

Pois França não está sozinha! Não está sozinha! Tem um vasto império ao seu lado. Pode formar bloco com o Império Britânico que domina o mar e continua a luta. Pode, como a Inglaterra, utilizar sem limites a imensa indústria dos Estados Unidos.

Esta guerra não se limita ao triste território de nosso país. Esta guerra não se decidiu na Batalha da França. Esta guerra é uma guerra mundial. Todos os erros, todos os atrasos, todas os sofrimentos não impedem que se tenha, no universo, todos os meios necessários para superar um dia a nossos inimigos. Superados hoje pela força mecânica, podemos vencer no futuro com uma força mecânica superior. O destino do mundo está aí.

Eu, o General de Gaulle, atualmente em Londres, convido aos oficiais e aos soldados franceses que se encontrem em território britânico, ou que aqui venham a se encontrar, com suas armas ou sem elas; convido aos engenheiros e operários especialistas da indústria de armamento que se encontrem em território britânico, a se pôr em contato comigo.

O que quer que aconteça, a chama da resistência francesa não deve e não irá se extinguir.


Amanhã, igual a hoje, falarei na Rádio de Londres."

Charles de Gaulle



terça-feira, 15 de junho de 2010

Moura Melo é o meu pastor


Tenho um amigo que vai prestar um concurso público pela Moura Melo, famosa empresa de concursos. Ele vai disputar uma vaga na Câmara Municipal de Mongaguá. Pois é, aquela pequena cidade entre Itanhaém e Praia Grande, que para muitos é apenas um local de passagem de um ponto do litoral paulista para outro.

Lembro quando era criança, e só conhecia tal lugar por causa das minhas viagens de São Paulo até Peruibe. Tinha interesse em visitar a plataforma de pesca, hoje uma decadente construção malufista, um grande hotel que fica encostado em um morro, próximo ao famoso poço das Antas....e é só. Mongaguá pouco significava para mim, mas pode significar muito para o meu amigo.

Pouco interessa que se trate de um município com pouca ou nenhuma importância. O que importa é que ele encontre lá uma solução para certos problemas, os quais não consegue resolver aqui. É comum os peruibenses desenvolverem apegos a nossa cidade, sentimentos que podem ter resultados trágicos.

Conheço gente que sofre por "não bater cartão" lá no paço municipal, que não se conforma de estar fora daquele meio. Estar lá dentro, na condição de funcionário, mesmo que comissionado, parece vital. Experimentei isso e não é bom e felizmente descobri que é possível ganhar o sustento em outros lugares, digamos assim, mais saudáveis.

Não é só uma questão de se ter o mínimo para pagar as contas, mas de possuir uma margem de livre arbítrio, inexistente para o servidor municipal peruibense na atualidade, o qual costuma vigiar a si mesmo na rua, para evitar comentários críticos ao grupo dirigente e portanto, inaceitáveis.

Uso os decrépitos veículos da Intersul, de segunda a sexta, para ir até o meu local de trabalho, por uma estrada que margeia bananais e não me arrependo. O fato é que eu estou livre para não temer represálias de tipos que só faltam babar por mais poder. Aliás, agradeço a Moura Melo por isso, pois foi um concurso dela que me proporcionou essa liberdade.

Moura Melo é meu pastor, nada me faltará.

sábado, 12 de junho de 2010

Empresa O BOTICÁRIO em Registro começará a funcionar no segundo semestre de 2010


A presença do presidente da O Boticário, Artur Grynbaum, na tarde da última quinta – feira, 07, em Registro, marcou o anúncio da concretização do Centro de Distribuição – CD da empresa no município. Durante coletiva com órgãos de imprensa da cidade e região, o presidente, acompanhado do diretor de operações, Giuseppe Musella e do gerente de logística, Paulo Goulart Netto tirou dúvidas dos jornalistas, contou um pouco dos planos da empresa para a cidade e principalmente o que fez a empresa optar pela cidade. “Acreditamos que Registro é um ponto estratégico de ligação com o restante do País e além disso, gostamos de ousar. Queremos fazer parte da materialização da vocação logística da cidade”, explicou o presidente Artur.

Ele ainda contou que durante a fase de construção o Centro de Distribuição – CD serão gerados cerca de 300 empregos, atualmente está empregando 100 pessoas, e a partir do momento que começar a operar, serão 200 empregos diretos. “A Lei de Incentivos que foi proposta pela Prefeitura e aprovada pela Câmara garante que 40% do efetivo seja de trabalhadores da cidade, mas a empresa já se comprometeu a contratar mais do que esse número”, acrescentou a prefeita Sandra. “Inclusive estamos recebendo pelo site currículos de pessoas que são daqui, mas estão trabalhando em Curitiba e região e querem voltar par Registro”, conta o presidente. “Nosso plano é a cada ano, aumentar em 50 vagas o número de postos de trabalho”, garante.

O vice-prefeito Nilton Otoboni, também presente na coletiva, fez questão de chamar a atenção para o fato de que “além dos benefícios diretos que o CD vai trazer para a cidade, não podemos deixar de lembrar que a vinda de um empreendimento desse porte para Registro impulsiona o consumo e a necessidade de outros serviços. O que já pode ser sentido inclusive agora, na fase de construção. São postos de combustíveis, padarias, supermercados, farmácias que tem suas vendas aumentadas devido ao número de pessoas que estão circulando na cidade”.

Para o trabalho no Centro de Distribuição será necessário que o candidato tenha o grau de escolaridade mínima de 2ºgrau para trabalhar em cargos como empilhadores, separadores, conferentes, supervisores, administração, faturamento, além de trabalhos indiretos como no refeitório, na manutenção e limpeza, entre outros.

Após a coletiva, a equipe O Boticário também se reuniu com lideranças da cidade como o presidente da Câmara Municipal, Benedito Honório Ribeiro Filho, o vereador e líder do governo na Câmara, Marcos Portela, o presidente da ACIAR, Hélio Borges, e as franqueadas da O Boticário, em Registro, Marta e Laura Andréa Martins Barbosa. Na sequencia, o grupo se dirigiu para o canteiro de obras da empresa na margem da BR – 116, onde foram apresentadas as etapas de construção e uma imagem de como deverá ficar a obra de 30mil m² com os equipamentos mais modernos do mundo para fazer a separação. “Quando estive visitando a fábrica, no Paraná, pude observar o perfil da administração da empresa calcada na valorização do funcionário e em parâmetros da pessoalidade nas relações de trabalho. A empresa Boticário tem a cara da nossa região, porque se preocupa com o desenvolvimento, mas de forma sustentável”, disse a prefeita Sandra. A intenção da empresa é que toda a produção para o Natal deste ano, já seja distribuída para o restante do País do CD de Registro.

Durante as atividades da agenda a Prefeita Sandra Kennedy e o presidente do Boticário recuperam a história recente da implantação da obra. “O Boticário, definiu pela instalação do CD no município de Registro depois de analisar a viabilidade em várias outras cidades nos eixos Anhanguera, Bandeirantes e Regis Bittencourt. Segundo a prefeita, o presidente da empresa disse que Registro chamava atenção pela localização geográfica, pela infra-estrutura boa da BR 116 e por ter remanescente de Mata Atlântica. E depois de várias tratativas da empresa com a prefeita eleita Sandra Kennedy, antes mesmo dela ter tomado posse, a definição foi se afunilando por Registro. “Nos reunimos com a equipe de expansão de negócios da O Boticário já em meados de outubro de 2008 onde conhecemos melhor a proposta da empresa e fomos desafiados a apresentar uma proposta de incentivo fiscal que fosse atrativa financeiramente, mas que acima de tudo, fosse sólida juridicamente”, lembra a prefeita Sandra Kennedy. “Desde então, a então equipe de transição buscou informações de legislação de outros municípios, procurou bons escritórios de assessoria jurídica sobre o tema. Assim que assumimos, reuni um Grupo de Trabalho composto pela área jurídica, finanças e desenvolvimento econômico e deleguei uma tarefa que parecia impossível: formatar um projeto de lei e apresentar a Câmara de Vereadores esperando ser aprovado em menos de 10 dias. O Grupo fez um ótimo trabalho – procuramos até a Fundação Getulio Vargas para garantir a segurança jurídica que precisávamos – e a Câmara teve sensibilidade e aprovou em curto espaço de tempo”, destacou Sandra Kennedy.

A prefeita ressaltou que foram dias difíceis, porque embora precisasse do apoio da Câmara Municipal não podia revelar o nome da empresa que tinha interesse mais imediato na lei, pois havia assegurado para evitar especulações. Isto porque mesmo com os negócios adiantados em relação ao terreno, a empresa somente se instalaria aqui caso o município tivesse a legislação assegurada. Durante sua participação no Fórum Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente Arthur, voltou a ressaltar a importância da Lei de Incentivos fiscais aprovada em Registro.

Fonte: Diário de Iguape

Recomendado: O BOTICÁRIO em Registro e nós ficando para trás

Norte-coreanos que fogem do país narram a miséria escondida pelo regime ditatorial de Kim Jong-il



The New York Times
Sharon La Franiere*
Em Yanji (China)

O operário de construção norte-coreano vivia na penúria. Seu empregador público não lhe pagava há tanto tempo que ele tinha esquecido seu salário. Na verdade, ele pagava ao seu chefe para ser um funcionário fantasma, para que pudesse deixar seu local de trabalho. Então ele e sua esposa poderiam ganhar seu sustento vendendo pequenos sacos de detergente no mercado negro.
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Parecia difícil que a vida pudesse piorar. Mas então, em uma tarde de sábado de novembro, sua irmã entrou em seu apartamento em Chongjin com notícias chocantes: o governo norte-coreano tinha decidido desvalorizar drasticamente a moeda do país. As economias da família, algo equivalente a US$ 1.560, foram reduzidas ao equivalente a US$ 3.
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No mês passado, o operário, sentado em um esconderijo nesta movimentada cidade no norte da china, lamentava os anos de sacrifício em vão. Legumes para seus pais, medicamento para a asma de sua esposa, o agasalho esportivo que sua filha de 15 anos desejava – tudo foi negado com base na teoria de que, mesmo na Coreia do Norte, vale a pena poupar para o futuro.
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“Ai!” ele exclamou, xingando entre gemidos. “O quanto trabalhamos para poupar aquele dinheiro! Só de pensar a respeito me deixa louco.”
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Os norte-coreanos estão acostumados a dificuldades e decepções. Mas a desvalorização da moeda em 30 de novembro, aparentemente uma tentativa de escorar uma economia estatal em dificuldades, foi para alguns o pior desastre desde a fome que matou centenas de milhares em meados dos anos 90.
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Entrevistas no mês passado com oito norte-coreanos que deixaram recentemente o país – um fugitivo da prisão, contrabandistas, pessoas em exílio temporário para encontrar emprego na China, a esposa em viagem de um membro do Partido dos Trabalhadores governista – pintam um retrato assustador de desespero dentro da Coreia do Norte, uma nação de 24 milhões de pessoas, e do crescente ressentimento em relação ao seu líder errático, Kim Jong-il.
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O que parece ausente – ao menos por ora – é instabilidade social. As dificuldades disseminadas, a revolta popular com a desvalorização da moeda e a crescente incerteza política enquanto Kim busca transferir o poder para seu terceiro filho não se transformaram em uma resistência notável contra o governo. Pelo menos dois dos entrevistados repetiram a propaganda oficial de que a Coreia do Norte é vítima de inimigos obstinados, sua pobreza um plano do Ocidente, que sua sobrevivência é ameaçada pelos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.
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A acusação pela Coreia do Sul de que a Coreia do Norte afundou um de seus navios de guerra, o Cheonan, em março, é apenas parte da trama, disse a esposa do membro do partido.
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“É por isso que temos armas para nos protegermos”, ela disse enquanto visitava parentes no norte da China – e ganhava um dinheiro extra como garçonete. “Nossos inimigos estão nos atacando por todos os lados, e é por isso que carecemos de eletricidade e boa infraestrutura. A Coreia do Norte deve manter suas portas fechadas.”
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Outros se mostraram mais céticos com a propaganda do governo, mas ainda consideram uma guerra como sendo inevitável.
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“Nós estamos sempre aguardando pela invasão”, disse uma ex-professora de escola primária. “Meu filho diz que deseja que a guerra chegue, porque a vida é difícil demais e nós provavelmente morreremos de qualquer forma de fome.”
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Eles e outros norte-coreanos falaram apenas sob a condição de anonimato, em conversas em grande parte arranjadas pelas igrejas clandestinas que operam na China, no outro lado da fronteira. Se fossem identificados como viajando ou trabalhando ilegalmente na China, eles poderiam ser deportados e presos, assim como seus parentes.
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Aproximadamente metade dos entrevistados disse que planeja voltar à Coreia do Norte; a outra metade espera desertar para a Coreia do Sul.
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Em muitos detalhes, seus relatos, feitos separadamente, se encaixam. Eles também reforçaram as descrições dos economistas e analistas políticos de um país abatido.
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Citando fotos aéreas de chaminés sem fumaça, os economistas dizem que aproximadamente três entre quatro fábricas norte-coreanas estão inativas. A economia está em retração desde 2006, quando Kim Jong-il se retirou das negociações multilaterais visando encerrar seu programa de armas nucleares. O afundamento do Cheonan abalará ainda mais a economia: a Coreia do Sul suspendeu quase todo o comércio, privando o Norte dos US$ 333 milhões por ano em vendas de peixes, frutos do mar e outras exportações.

Uma economia em retração

Quando a Península Coreana foi dividida em 1945, a Coreia do Sul era mais pobre do que sua vizinha. Atualmente, seu trabalhador ganha em média 15 vezes mais do que um norte-coreano, segundo dados corrigidos pelo custo de vida. O número de desertores que chegam pela China à Coreia do Sul tem crescido constantemente ao longo da última década, chegando a quase 3 mil no ano passado.
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As taxas de mortalidade infantil e materna cresceram pelo menos 30% de 1993 a 2008, e expectativa de vida caiu em três anos, para 69 anos, no mesmo período, segundo os números do censo norte-coreano e do Fundo de População das Nações Unidas.
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O Programa Alimentar Mundial da ONU diz que 1 entre 3 crianças norte-coreanas com menos de 5 anos é desnutrida. Mais de 1 entre 4 pessoas precisa de ajuda alimentar, diz a agência, mas apenas 1 entre 17 a receberá neste ano, em parte porque os doadores relutam em enviar ajuda a um país que insiste em desenvolver armas nucleares.
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A desvalorização da moeda apenas ampliou o sofrimento. Sua meta era desviar a receita da vasta economia clandestina norte-coreana – seus mercados de rua – para as empresas públicas sem dinheiro.
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Os mercados são a única fonte de renda para muitos norte-coreanos, mas eles são uma afronta ao credo do governo de socialismo econômico. Teoricamente, todos, exceto os menores, idosos e mães de crianças pequenas, trabalham para o Estado. Mas as empresas estatais estão definhando há 30 anos, e os norte-coreanos fazem tudo o que podem para escapar de trabalhar nelas.
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Os agricultores cuidam de seus próprios jardins enquanto ervas daninhas tomam as fazendas coletivas. Os trabalhadores urbanos faltam em seus empregos públicos para mascatearem de tudo, de metal retirado das fábricas desativadas até televisores contrabandeados da China.
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“Se você não praticar o comércio, você morre”, disse a ex-professora, uma mulher de 51 anos com rosto redondo e rabo-de-cavalo. Ela passou de uma funcionária pública obediente a uma comerciante fora-da-lei, mas mesmo assim não conseguiu escapar de sua situação difícil.
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Famintos demais para estudar

Ela lecionou por 30 anos em uma escola primária em Chongjin, a terceira maior cidade da Coreia do Norte, com aproximadamente 500 mil habitantes. O que antes era um emprego de período integral se transformou em um de meio expediente em 2004: as escolas passaram a fechar ao meio-dia. Pelo menos 15 de seus 50 alunos abandonaram os estudos ou partiam após uma hora, famintos demais para poderem estudar.
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“É muito difícil ensinar uma criança com fome”, ela disse. “Até mesmo sentar em uma carteira é difícil para elas.”
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Os professores também passavam fome. Seu salário mensal mal comprava um quilo de arroz, ela disse. Com formação universitária, ela retirou sua própria filha da terceira série em 1998, a enviando para uma vizinha para aprender a costurar.
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Ela abandonou seu emprego na escola em 2004 para vender macarrão de milho no principal mercado de Chongjin, um espaço de barracas com cobertura de plástico com metade do tamanho de um quarteirão da cidade, onde os comerciantes vendem principalmente produtos chineses, incluindo pasta de dente, agulhas para costura e DVDs das novelas sul-coreanas proibidas.
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Mas o macarrão mal dava lucro, então ela tentou um comércio mais arriscado envolvendo produtos controlados pelo Estado: pinhão e frutas vermelhas utilizadas em um chá popular. Esse esquema ruiu em outubro. Após ela e seus sócios terem colhido 17 sacas de produtos de uma aldeia, um guarda em uma barreira confiscou todas elas em vez de aceitar suborno para deixar que passassem. Ela ficou com o equivalente a US$ 300 em dívidas.
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Como ela, o operário de construção, um homem magérrimo de 45 anos com boa cabeça para números, decidiu que o empreendimento privado era a única salvação de sua família. Mas como homem, era mais difícil para ele se livrar de seu trabalho.
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No papel, ele disse, uma construtora estatal de Chongjin o emprega. Mas a empresa possui pouco material de construção e não tem dinheiro para pagar seus funcionários. Assim, como mais de um terço dos trabalhadores, disse o operário, ele paga cerca de US$ 5 por mês para que um funcionário registre sua presença na empresa, para que ele possa trabalhar em outro lugar.
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Esses pagamentos, comuns nas empresas estatais menores, supostamente mantêm as empresas solventes, disse uma mulher de 62 anos que é comerciante em Chongjin. Até mesmo uma empresa grande, como a usina de aço da cidade, não paga salários desde 2007, disseram ela e outros, apesar de seus operários receberem o equivalente a 10 dias de rações alimentares por mês.
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“Como as empresas sobreviveriam se não recebessem o dinheiro dos trabalhadores?” ela perguntou sem ironia.
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Recentemente, a empresa do operário de construção se tornou mais ativa. O Estado resolveu recuperar a única rua pavimentada de Chongjin e construir um hospital e uma universidade para o centenário em 2012 do nascimento de Kim Il-sung, o pai de Kim Jong-il e fundador da Coreia do Norte.
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Mas a onda de projetos teve um custo: cada família foi obrigada a entregar 17 sacos de pedras todo mês para seu comitê local do partido. O operário de construção pediu aos seus pais idosos que procurassem em leitos de córregos e campos por pedras que a família quebrava à mão em pedras do tamanho de uvas.
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Sem um salário do Estado, ele ganha dinheiro com sua inteligência. Todo mês de outubro, ele vende lulas pescadas com um barco que ele pilota nas águas costeiras traiçoeiras. Em outros meses, ele pedala cerca de 30 quilômetros à procura de bens para vender, geralmente detergente comprado de uma fábrica que é revendido por sua esposa com ágio de 12% em uma lona estendida do lado de fora do mercado principal.
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O governo periodicamente tenta intervir nos mercados, regulando preços, horas, tipos de bens vendidos, idade e sexo dos comerciantes e até mesmo se transportam seus produtos de bicicleta ou nas costas.
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Economias dizimadas

Em um comunicado de 2007 do Comitê Central, Kim Jong-il se queixou de que os mercados se transformaram em “um berço de todo tipo de práticas não-socialistas”. A desvalorização da moeda em 30 de novembro os virou do avesso. O Estado decretou que um novo won, mais valioso, substituiria o velho won, mas que as famílias poderiam trocar apenas 100 mil wons, aproximadamente US$ 35 segundo a cotação do mercado paralelo, pelo novo. A medida na prática eliminou as reservas privadas de dinheiro.
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Para amortecer o golpe, dizem os trabalhadores, lhes foi prometido que seus salários seriam restaurados caso retornassem aos seus empregos públicos. Na verdade, disseram o operário de construção e outros, eles receberam um mês de salário, em janeiro, antes dos salários desaparecerem novamente.
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Alguns com contatos políticos evitaram o pior. Uma mulher de Hamhung, a segunda maior cidade da Coreia do Norte, disse que o diretor do banco local permitiu que seus parentes trocassem 3 milhões de wons, 30 vezes o limite oficial.
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A esposa do membro do partido, com o cabelo levemente encaracolado, uma bolsa de grife pirata ao seu lado, se gabou de sua casa de seis cômodos com dois televisores coloridos e um jardim. Em seguida, ele elogiou a desvalorização como uma punição merecida para aqueles que tentaram enganar o Estado, apesar dela ter reconhecido que isso levou ao caos e ter lembrado que um alto funcionário financeiro foi executado devido à política.
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“Muita gente ruim enriqueceu por meio do comércio ilegal com a China, enquanto boas pessoas nas empresas estatais não tinham dinheiro suficiente”, ela disse. “Assim, os abastados perderam para os destituídos.”
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A ex-professora deu tudo o que tinha. Após seus credores a despojarem de todo seu dinheiro, ela disse, ela atravessou a pé o congelado Rio Tumen à noite e entrou na China em busca de ajuda de seus parentes que vivem lá. Faminta e apavorada, ela bateu aleatoriamente às portas até que um estranho a ajudasse a contatá-los.
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Agora segura no lar de seus parentes, ela disse, ela se maravilha em como eles desfrutam de iguarias como pepinos no inverno. Mas abandonar temporariamente seu filho e filha, ambos na faixa dos 20 anos, a deixa tão tomada de culpa que às vezes ela nem consegue engolir os alimento diante dela. “Eu não sei se meus filhos conseguiram algum dinheiro ou se morreram de fome”, ela disse, com os olhos cheios de lágrimas.
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Para o operário de construção, a notícia da desvalorização dada por sua irmã provocou uma corrida para tentar salvar o pé-de-meia da família. Ele esvaziou a gaveta do armário na sala de estar onde guardavam suas economias e dividiu com sua esposa e filha, dizendo: “Comprem o que conseguirem, o mais rápido que puderem.”
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Os três correram furiosamente de bicicleta até o mercado de Chongjin. “Era como um campo de batalha”, ele disse. Milhares de pessoas tentavam freneticamente dar um lance mais alto que as outras por produtos, em uma tentativa frenética de converter o dinheiro que logo não valeria nada em algo palpável. Alguns preços subiram 10.000%, ele disse, antes dos comerciantes encerrarem as atividades, percebendo que seus lucros logo também não valeriam nada.
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Os três disseram que voltaram para casa com 30 quilos de arroz, uma cabeça de porco e 100 quilos de tofu. A filha do operário conseguiu comprar uma pequena tábua de corte e um par de calças usadas. Juntos, eles disseram, eles conseguiram gastar o equivalente a US$ 860 em itens que teriam custado menos de US$ 20 no dia anterior.
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Sua filha tentou confortá-lo. “Pai, eu guardarei essas calças até minha morte!” ela prometeu. Ele disse para ela que a tábua de corte seria seu presente de casamento.
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“Naquele momento, eu realmente queria me matar”, ele disse. Ele gesticulou para a janela do esconderijo e para a noite de Yanji, bem iluminada e com tráfego agitado. “Não é como aqui”, ele disse. “Aqui não é grande coisa ganhar dinheiro. Lá, é sofrimento e sofrimento; sacrifício e sacrifício.”
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Ele disse que não conseguia dormir noite após noite, fixado no agasalho esportivo que sua filha queria. Ela dizia que ele era muito melhor que o suéter de inverno e as calças comuns que ela usava. Ele a dissuadiu, porque os mais baratos custavam quase US$ 15. Quando ela insistiu demais no assunto, ele xingou e gritou: “As pessoas nesta casa precisam comer primeiro!”
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“Eu não posso descrever quão terrível me sinto por não tê-lo comprado para ela”, ele disse, com voz trêmula.
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Um isolamento profundo

Os norte-coreanos que nunca cruzaram a fronteira não têm como ter ideia de suas tribulações. Não há Internet. Os aparelhos de rádio e televisão são soldados para receberem apenas os canais do governo. Até mesmo a esposa do membro do partido não tem telefone e lamenta sua falta de contato com o mundo exterior. Sua primeira pergunta para o estrangeiro foi: “Eu sou bonita?”
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Lentamente, entretanto, a informação está entrando. Os mercadores voltam da China e relatam que as pessoas são mais ricas e comparativamente mais livres lá, e que os sul-coreanos supostamente são ainda mais. Alguns dos celulares dos comerciantes são ligados à redes de telefonia móvel chinesas, que podem ser camufladamente emprestados por taxas exorbitantes.
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A punição por assistir filmes e programas de televisão estrangeiros é pesada. O comerciante disse que um vizinho de 35 anos passou seis meses em um campo de trabalhos forçados no ano passado, após ser pego assistindo “Dragões em Dose Dupla”, um filme de ação cômico de Hong Kong estrelado por Jackie Chan. Para desalento da ex-professora, seu filho de 26 anos corre riscos semelhantes.
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Sua irmã é casada com um funcionário do governo na capital, Pyongyang, ela disse, mas nenhum deles é fã de Kim Jong-il. Em sua visita mais recente, ela disse, sua irmã sussurrou para ela: “As pessoas o seguem por medo, não por amor”.
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Desde a desvalorização da moeda, ela e outros disseram, as pessoas estão claramente mais ousadas nesses comentários.
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“Agora, no mercado, as pessoas falam tudo”, disse o operário de construção. “Elas dizem que o governo é ladrão – mesmo em plena luz do dia.”
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Sua esposa não era uma delas. Por semanas após a desvalorização, ele disse, ela ficou deitada na esteira no chão da sala de estar, imobilizada pela depressão. “Eu não tinha força para dizer nada para ela”, ele disse.
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Finalmente, ele disse para que ela se levantasse. Era hora de recomeçar.
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*Su-Hyun Lee, em Seul (Coreia do Sul), contribuiu com pesquisa.
Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte: http://www.uol.com.br/