POSTAGEM RECOMENDADA: O ANTI-PERUIBENSE DE PERUÍBE
MARCADORES: CANAL VISÃO LIBERTÁRIA, BRASIL NO SÉCULO XX, EQUERDISMO NO BRASIL, COMUNISMO, SOCIALISMO, REGIME MILITAR, OUTUBRO, 2022
"E agora, pai, como é que vai ser? Com essa votação, ele perderá no segundo turno", disse o rapaz das entregas para o progenitor, após ambos assistirem o resultado do primeiro turno na TV. "Não dá pra virar, mais um pouco, e o outro levava", disse desanimado.
"Em primeiro lugar, deixe de ser um homem bule", falou o pai, enquanto tranquilamente levantou do sofá para pegar o telefone, pois pretendia pedir umas pizzas.
"Homem bule? O comunista quase venceu, e você com piadinha? Que diabo é um homem bule?"
"Um homem de pouca fé, pô!", e riu. "Você não está entendendo a situação. Em 2018 enfrentamos coisa pior. Lembra da facada? Tentaram de tudo contra ele e acabaram humilhados no final. Agora, não vai ser muito diferente. Tenha paciência, que a gente ganha de novo."
"Mas é muita diferença, pai. Milhões de votos à frente. Nem parece que esse pessoal entendeu que o sujeito é um ex-presidiário que foi preso por corrupção. Isso é coisa de quem nunca aprende com o erro, se ferra e vai nos ferrar junto. E agora, qual é a ideia?", perguntou, como se a conversa deles influenciaria de alguma forma o destino do país, se ambos não fossem simples trabalhadores de um humilde subúrbio curitibano.
"O jeito é convocar as tropas de reserva. Vamos enviar contra eles tudo o que temos", disse, reproduzindo, quase que de forma fiel, uma frase que escutou no episódio de um desenho animado oitentista. "Milhões de eleitores se abstiveram, nem quiseram saber. Tá na hora de chamar esse povo pra responsa. Você sacou?"
O filho percebeu um tom de dureza nas palavras do pai, normalmente muito brincalhão. Ambos sabiam da seriedade da situação, e não queriam perder o pouco que tinham conquistado, com muito trabalho duro, e sem pedir por ajuda de algum político. A mãe estava conversando com uma vizinha. Os irmãos brincavam no quintal, mas na rua predominava o silêncio, mesmo num bairro em que vários moradores tinham votado no outro cara, cuja "vitória" ninguém por lá comemorou. Em breve muitos iriam dormir e descansar, para na segunda-feira encararem com alguma disposição uma segunda-feira de trabalho duro. O progenitor prosseguiu o raciocínio:
"Meus pais não foram votar. Se abstiveram, por causa da idade. Tenho certeza que seu avô se arrependeu de ter ficado em casa após saber do resultado, pois pensa como nós. Vou falar com ele pelo zap zap e jogar umas verdades, e quem sabe também convenço a tua avó. Precisamos convocar a tropa do pijama! Tem outro jeito não", disse, e foi pra fora, buscar as pizzas, após escutar a buzina do entregador.
O rapaz admirou a inteligência do pai (ao mesmo tempo que estranhou o fato do mesmo comprar pizza numa noite de domingo, após uma notícia tão desmotivadora), e entendeu o que precisava ser feito. Lembrou do último 7 de setembro, do qual participou, e compreendeu que os dois não estariam sozinhos nesse esforço. O plano precisava ser compartilhado e passado adiante, embora soubesse que em outros cantos do Brasil, patriotas já pensavam a mesma coisa. Atrair para o próximo pleito os desmotivados - embora simpatizantes da causa - era o caminho, o único capaz de finalmente lhes dar a tão necessária vitória.