Hoje é domingo de carnaval, com a cidade lotada de turistas/veranistas, praias cheias de banhistas, e o comércio bem movimentado. Mas e depois, após o último folião de fora voltar pra onde veio? Como ficará peruba city?
O alívio econômico/social gerado pela temporada de verão acabará em poucos dias, e a Peruíbe de 2020 prosseguirá como um navio em chamas, perdido num mar revolto. Os tripulantes não sabem o que fazer (pois é, eles nunca sabem), e os passageiros (seríamos nós, os munícipes?) ficam entre enfrentar as chamas, ou pular nas águas e encarar as ondas que colidem contra essa desgraçada embarcação. Pensando bem, sorte de quem já desembarcou, pois a coisa está feia!
O fato é que esse drama vem de longe. O texto que reproduzirei abaixo foi publicado neste blog originalmente em 2013, e até agora nada do que escrevi no mesmo mudou, pelo menos para melhor. Se ainda não leu, está logo abaixo:
"A próxima quarta-feira-de-cinzas indicará não apenas o fim do carnaval, mas a conclusão na prática da temporada de verão. Esse período, que vai da semana natalina ao final da festa carnavalesca, se encerrará em poucos dias. O número de desempregados voltará a ser elevado, sendo que muitos correrão o risco de, quanto mais demorarem para arrumar novas ocupações, mais rápido caminharão para a miséria. Escrevo sobre gente que ficou "numa boa" por apenas uns dois ou três meses. Homens e mulheres nascidos na cidade ou que cresceram aqui, na sua maioria entre os vinte e os cinquenta anos, muitos com filhos pequenos, muitas contas para pagar, e cujas perspectivas de retorno ao mercado de trabalho fora da temporada serão escassas. Pessoas que cedo ou tarde precisarão trabalhar ganhando bem menos do que o necessário, se tiverem tal sorte, para não serem chamadas de vagabundas. Gente que precisará se ajustar a ociosidade - o que não significa aceitá-la - e a partir daí buscar um novo rumo.
Muitos jovens universitários só poderão iniciar suas carreiras profissionais lá fora. Aquela que é sem dúvida a mais bem qualificada geração peruibense (nunca teve tanto morador daqui em cursos de ensino superior e de nível técnico) tende a partir em massa, para não se sentir inútil, dispensável e parte de um grupo de gente que não se encaixa, forçada a ficar à margem, embora com melhor instrução. Essa migração só tende a contribuir para uma "desertificação de ideias" nesta cidade, podendo até mesmo estagnar o crescimento demográfico.
O que eu não entendo nesta cidade é a dificuldade em se aceitar o fato de que o grande problema de Peruíbe não é o SUS local com as suas conhecidas deficiências, mas o desemprego de longa duração ao qual toda uma massa de trabalhadores tende a ficar novamente submetida, agora que os turistas se foram. Para piorar, neste ano não falta por aí muito peruibense jovem deixando a adolescência, e que como adulto, corre o risco de demorar um bocado de tempo para ter a experiencia de um emprego, uma carreira, uma vida profissional, enfim, essas coisas normais que fazem (eu acho que fazem) parte da vida de qualquer ser humano capaz de trabalhar. Essa mão-de-obra farta e subaproveitada tende a ser muito barata para possíveis empregadores, o que (como já disse em outras postagens), contribui para os baixos níveis salariais locais.
Como consequência disso tudo, é apenas normal que qualquer descontente revoltado troque um trabalho precário e bem pouco rentável por uma passagem de ônibus em algum veículo da Breda, Intersul ou Catarinense e simplesmente saia daqui."
E para concluir, também reproduzo um poema de minha autoria, no qual homenageio Carlos Drummond de Andrade. É tragicômico, mas tem tudo a ver com a nossa terra da eterna juventude.
E AGORA, PERUIBENSE?
E agora, peruibense?
A temporada acabou,
a praia esvaziou,
o turista sumiu,
o veranista se foi.
e agora, peruibense?
Para encerrar: a música abaixo é melhor do que qualquer bobajada carnavalesca.
POSTAGEM RECOMENDADA: A PERUÍBE ATUAL SE PARECE COM UM ESTREITO BECO NUM DIA CHUVOSO
MARCADORES: CARNAVAL EM PERUÍBE 2020, FIM DA TEMPORADA DE VERÃO, CIDADE LOTADA, EMPREGOS, DESEMPREGO, ELEIÇÕES MUNICIPAIS, FEVEREIRO, 2020