Os peruibenses formam atualmente uma sociedade aberta. Aceitam com facilidade a presença de forasteiros, incluindo a ampla participação dos mesmos nos destinos desta terra.
O surgimento de uma classe média significativa só aconteceu durante os anos oitenta, e graças a migração de paulistanos aposentados. Se hoje existem várias pessoas com um padrão de vida bem acima da maioria, a verdade é que até à poucas décadas atrás isso não acontecia. A pesca igualava a quase totalidade dos moradores em um mesmo nível social.
Peruíbe passou muito rapidamente de uma comunidade de pescadores e agricultores para uma baseada no turismo como principal fonte de renda. Diria que isso ocorreu em cerca de quarenta anos. Se tais mudanças tão rápidas são possíveis na ciência e tecnologia as transformações culturais e comportamentais necessitam de mais tempo. Necessitam de mais gerações. A transição cultural por aqui foi muito rápida, e os caiçaras não estavam preparados para essa rapidez.
Este foi durante muitos anos um lugarejo isolado e consequentemente fechado em si próprio. O desconhecimento sobre o que ocorria no restante de SP e até do Brasil era imenso, o que só começou a mudar lentamente, graças ao acesso ferroviário. Os peruibenses, que até então viveram virados para dentro, passaram a ter a estação ferroviária como o seu centro do mundo. E foram se globalizando, valorizando o que vinha de fora, eu diria que até demais.
Em algumas cidades próximas daqui, no Vale do Ribeira - que Peruíbe artificialmente abandonou - existe um complexo de xenofobia, que se manifesta em uma vulgar prepotência e um bobo bairrismo. Como eu trabalho por lá, posso ver isso tudo de perto. Falo de atitudes até preconceituosas, mas que possuem uma curiosa dualidade. Elas têm a sua origem na ignorâcia sobre o que vem de fora, mas também demonstram um importante instinto de defesa, que os peruibenses perderam, ACEITANDO TUDO O QUE VEM DE FORA, SEM RESTRIÇÕES OU QUESTIONAMENTOS.
A emancipação não foi acompanhada dos devidos cuidados, que deveriam ter tido os que aqui nasceram. A maioria do povo caiçara foi incapaz de perceber que certos forasteiros, tão interessados em criar aqui um município, eram uma ameaça à sua cultura e modo de vida, devido aos seus interesses particulares. Trabalharam para transformar Peruíbe em um condomínio para veranistas, deixando aos caiçaras as migalhas. Alguém tem coragem de dizer que não foi isso mesmo o que aconteceu ?
E agora essa elite importada dará UMA BANANA aos que ainda vivem na Juréia, os quais correm o risco de expulsão. Não darão a mínima, já que não é com eles. É tudo parte de um processo de exclusão social, que teve seu marco nos anos setenta, quando a prefeitura criou restrições para a construção de casas em bairros praianos, como um mínimo de área construída e uma planta específica. Nem todos os caiçaras puderam com essas exigências, e muitos tiveram que se mudar para os subúrbios. O que sempre interessou aos forasteiros que passaram a dominar a política daqui, foi se esforçar na criação de um paraíso para privilegiados, um lugar onde poucos, bem poucos pudessem viver.
Até ongueiros famosos deram para ajudar nesse projeto de longo prazo, se opondo a qualquer proposta que possa trazer empregos aos necessitados (quem sabe assim, eles vão embora) e se preocupando APENAS com os caiçaras e índios - convertidos em minorias insignificantes, as quais não ameaçam o poder - deixando os pobres das áreas urbanas perdidos e sem apoio. Esses ongueiros podiam pelo menos ajudar na mudança dessa gente que tanto sofre para fora daqui, já que não lhes dá outra escolha. Podiam se importar um pouco.
Este paraíso é cada vez mais para poucos. A não ser que uma futura presença da Petrobrás traga investimentos de porte, veremos ainda mais peruibenses partindo em busca de novos horizontes.