quinta-feira, 8 de setembro de 2016

DENISE CAMPOS DE TOLEDO / CHEGA DE FICAR ACUADO PELO CRONOGRAMA POLÍTICO - SETEMBRO DE 2016


São vários os indícios de que a economia pode ter ultrapassado a fase mais negativa. Não que alguns indicadores não possam piorar. Um deles é o mercado de trabalho. Com atividade ainda fraca, vários setores continuam fazendo cortes. E os empresários só devem voltar a contratar quando houver segurança da retomada do movimento, o que vai levar mais algum tempo. Mas, no geral, até em função de movimentos cíclícos, a economia já deve ter atingido o fundo do poço e, a partir daí, vai começar a apresentar dados melhores. Um quadro político mais definido pode ajudar, principalmente, no que se refere aos investimentos. Um ambiente de maior confiança ajuda até na atração de capital externo, do dinheiro de longo prazo, não o que vem apenas pra aproveitar oportunidades da bolsa ou os juros altos. E o governo deve trabalhar nesse sentido, acelerando as concessões e privatizações. Mas é importante que não se iluda com os sinais de melhora da economia. Se não trabalhar de forma mais consistente para o reequilíbrio das contas públicas, a retomada vai ser curta - o chamado vôo da galinha. Por isso, é positiva a disposição de encaminhar a proposta de reforma da Previdência antes das eleições. Chega de ficar acuado pelo cronograma político. Já foi cauteloso demais no período de interinidade, evitou confrontos, fez concessões que vão acarretar aumento de despesas. Ainda não sabe ao certo como lidar com o reajuste do Judiciário, que pode ter efeito dominó até para os Estados, que já estão com a corta no pescoço. É uma questão mais específica, mas que também pode estabelecer uma nova postura, mais firme, que gere maior credibilidade. Não aquela credibilidade que vem de medidas populistas, que pode até melhorar só com a esperada reação da atividade. Mas credibilidade por uma confiança na capacidade de reverter, estruturalmente, a crise econômica. Sem uma mudança maior na condução das contas públicas, a economia não vai entrar nos eixos, não vai recuperar os pilares de sustentação de um crescimento de longo prazo. Não dá mais pra fugir de temas que vão enfrentar resistência, como a limitação de gastos e a Reforma da Previdência. Mesmo que não se consiga um avanço tão amplo como seria necessário, mudanças pontuais já podem estabelecer perspectivas melhores. Agora, antes de tentar obter apoio da sociedade para essas reformas, é bom cuidar de reduzir certos privilégios, como tratamentos diferenciados na Previdência e as desonerações, que representam cerca de 5% do PIB - a chamada bolsa empresário. A conta para a sociedade já está pesada demais.


MARCADORES: BRASIL, BRASILEIROS, CRONOGRAMA POLÍTICO, POLÍTICA, GOVERNO MICHEL TEMER, REFORMAS

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