Prefeitos e autoridades estaduais da área de saúde correm, agora, para organizar mutirões de limpeza nos bairros, manter a vigilância nos locais de maior incidência de casos, instalar sistemas de notificação e definir unidades de saúde como referência para diagnóstico e tratamento. Como, no passado, não elegeram como prioridade um programa de vigilância permanente, autoridades locais, mais uma vez, só reagiram diante de um novo surto da doença.
Há oito anos, o Brasil viveu sua pior epidemia de dengue, com 697.998 casos da doença e 151 mortes. Neste ano, os números são ainda piores - cerca de 1 milhão de casos, com mais de 592 mortes, um total 90% maior do que o registrado no ano passado. Nas primeiras semanas do ano, a doença colocou o País em alerta com o reaparecimento do tipo 1 da dengue no território nacional. O vírus é associado a aumento significativo do número de internações e as vítimas correm o risco de seguidas infecções. Ele não era detectado desde a década de 1980, o que deixou grande parcela da população sem imunidade.
Em 2010 a doença voltou a ameaçar seriamente o País e mesmo em São Paulo, o mais rico Estado da federação, o número de casos quadruplicou já em janeiro. Nos últimos três anos, o governo estadual investiu R$ 120 milhões no combate à dengue e megaoperações são organizadas sempre que aumenta o número de casos. Passado o perigo, há uma acomodação dos governos locais. Por causa da falta de continuidade no combate à doença, ela não demora a voltar.
Há pouco mais de um mês, levantamento da Secretaria de Estado da Saúde mostrou que a Baixada Santista voltou a ser recordista em número de casos de morte pela doença - das 120 vítimas registradas em São Paulo até então, 81 eram de cidades litorâneas. A região reunia 20% do total de casos de dengue no Estado.
Tão preocupante quanto a explosão de casos é o despreparo dos profissionais da rede de saúde pública para o atendimento aos pacientes. Em Santos, 70% das pessoas contaminadas que perderam a vida só tiveram a doença diagnosticada depois de passar por mais de um local de atendimento, ou então não receberam, no primeiro atendimento, o tratamento adequado.
Como sempre alertaram os sanitaristas, dengue não se combate apenas com o conhecido fumacê, os mutirões de limpeza nas periferias ou as advertências dos agentes de saúde às donas de casa que teimam em deixar água parada nos vasos de plantas. Um programa eficiente de combate à dengue tem de prever medidas que vão da vigilância permanente para evitar a formação de criadouros até a melhor qualificação das equipes de Saúde.
Nenhuma medida isolada é capaz de evitar a proliferação do mosquito transmissor. Basta que 1% dos domicílios de um bairro apresente larvas do Aedes aegypti para que haja risco de epidemia.
O governo federal tem mantido recursos à disposição dos municípios. Além disso, lançou em julho de 2009 as Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de Epidemias de Dengue, em parceria com Estados e Municípios, para padronizar as ações de vigilância e assistência em todo o País. Portanto, não há mais razões para a descontinuidade dos programas. Bom seria se o Ministério da Saúde e os governos estaduais fixassem metas para as prefeituras, o que permitiria um melhor controle sobre o uso das verbas e evitaria a inércia.
FONTE: http://www.estadao.com.br/