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O episódio 12 da última temporada de SNK é sem dúvida bem polêmico, mas merecedor de uma análise simples. Nele vimos a ascensão de Eren Jaeger, o órfão vingativo de Shingashina (cujo o único mérito inicial era o de ser portador de um dos titãs primordiais), para a condição de herói e líder revolucionário de muitos eldianos de Paradis.
Para que surja um movimento revolucionário em qualquer país, é preciso que uma parte da população (não necessariamente a maioria), esteja descontente e revoltada o suficiente para para apoiar uma ruptura da ordem estabelecida, a ponto de lutar para isso. No caso de Paradis, as condições para a popularização de ideias radicais, mesmo que sangrentas, são mais do que favoráveis.
Não dá para esperar moderação política de um povo o qual, quase que de uma dia para o outro (os segredos do porão de Grisha foram publicados em jornais da ilha), se descobre odiado pelo resto de uma humanidade que ignorava existir. Pessoas que até então desconheciam a industrialização, luz elétrica, trens, automóveis e aeronaves, além de outras tecnologias, e por muitos anos forçadas a serem parte de uma sociedade com altos índices de pobreza e uma economia baseada na agricultura de subsistência, artesanato, inexistência de comércio exterior e um enorme atraso tecnológico, sendo tudo isso culpa de um rei (que optou por um total e empobrecedor isolacionismo) e do próprio mundo exterior, que as odeia.
Trata-se de um ódio que quase resultou no extermínio dos eldianos da ilha, fato já conhecido por todos, e impossível de motivar bons sentimentos, que o diga Floch Forster, o único sobrevivente da famosa ação suicida contra o titã bestial, e que após ser informado da verdade, passou a nutrir um "ódio reverso" contra a humanidade além das muralhas. Para ele, sem dúvida um dos primeiros yageristas, só existirá paz para seu povo se surgir um novo "Império de Eldia", custe o que custe, e nisso Eren tem um papel-chave, de liderança e inspiração.
Na cena dos manifestantes em frente do quartel vemos uma multidão descontente e andrajosa, exigindo a libertação de Eren. Ali não se vê gente próspera e mais instruída, do tipo que acredita numa solução negociada com Marley e outras nações para alcançar a paz. Fica claro que os mais pobres (e os que perderam entes queridos no primeiro ataque), são os que menos acreditam em diálogo com os inimigos. As condições para uma possível revolução política vão sendo apresentadas. O populacho que ficou desabrigado e numa condição quase famélica anos antes está bem representado.
Armin e Mikasa, ambos também antigas vítimas da queda da muralha Maria, estão do "outro lado", apoiando um poder político-militar que se faz de poderoso, mas é incapaz de enfrentar uma coalizão internacional contra Paradis. Numa ação surpreendente, o comandante Dhalis Zachary (que considera Eren um traidor e evidentemente pretende eliminá-lo) é morto numa explosão, e seu cadáver arremessado perto dos manifestantes, os quais comemoram o que lhes parece ser a primeira vitória ("Entreguem os seus corações!"). Os dois testemunham e sobrevivem por pouco ao atentado, o qual é na prática a primeira ação importante da facção yagerista (ou jaegerista, na tradução valem ambos os sobrenomes). E em meio a tudo isso, o filho de Grisha foge para encontrar Zeke, o que só aumenta a tensão entre os militares, cuja cadeia de comando está seriamente prejudicada. Mas Armin acredita que é possível conversar com o velho amigo, e fazê-lo "mudar de ideia".
E o momento mais importante do episódio, e cheio de simbolismos, é o encontro do Eren fugitivo com Floch e outros desertores, todos fiéis radicais yageristas. A paisagem árida e rochosa incentiva a necessidade de se "seguir adiante", pois nela não se pode viver; o sol poente remete ao Japão feudal, e a figura do samurai que irá duelar contra o inimigo durante o entardecer; e a a jaqueta preta é como uma armadura que o herói veste antes de iniciar sua grande e extraordinária jornada.