Pouco meses atrás, a garota do sonho tinha se mudado para Pinhais, onde passou a morar com uma amiga, a garota da scooter. Após visitar a cidade, onde ficou por alguns dias, decidiu se mudar para lá, pois para ela Peruíbe prosseguia como uma cidade grande em beleza, mas feia em perspectivas. Já o distante município paranaense, lhe chamou atenção pelo belo panorama urbano, e naquilo que mais a interessava: a chance real de ter um emprego de verdade.
A "nova pinhaense" se acostumou com a rotina, de segunda à sábado, ir até Curitiba para trabalhar em uma loja de um Shopping em um bairro no centro, onde conheceu uma moça da mesma cidade de origem, a qual desde o ano passado passou a morar ali perto com o namorado, agora convertido em marido não-oficial. Durante a primeira conversa que tiveram, ambas se deram conta, que tinham se tornado trabalhadoras as quais, em busca de melhores condições de vida, migraram de uma terra distante e geradora de saudade.
Ah, a saudade! Como não se esquecer, de um lugar tão repleto de beleza! Peruíbe é um lugar muito difícil (para se viver), mas também é um lugar maravilhoso, e todo aquele que dele parte sabe bem disso. E para quem sai resta a esperança, de para a bela terra peruibana retornar ... para ficar. Desde que se mudou, a garota do sonho manteve isso em mente, da que sua mudança ser provisória. Mas para à amiga, a última garota, a admiração por Curitiba sepultou qualquer desejo de retorno.
No sábado de páscoa (no qual não foram obrigadas ao uso de máscaras, após dois anos de pandemia), enquanto trabalhavam em um quiosque no corredor do shopping, conversaram sobre isso:
"Quando a situação ficar melhor por lá, vou voltar", disse a pinhaense temporária.
"Ou seja, nunca irá voltar", rebateu a curitibana de coração. "Peruíbe deu tudo o que tinha que dar, supera, pô!"
"Vai dizer que não sente falta? Você morava perto da praia do centro, tinha tudo perto de casa. E então?", replicou com um argumento que a outra, logo de cara, considerou fraco.
"Então digo eu!", e começou a enumerar as próprias razões, com os dedos da mão esquerda. "Era uma sem emprego, sustentada pelos pais, com um diploma universitário de enfeite na parede, e que vendia bijuteria pra tirar uns trocos. E me sentia uma inútil. Nem meu namorado me segurou, quando quis vir para cá."
"E ele mora contigo, agora. É aí, pretende me largar aqui, pra ir dar aula?"
"Claro, estudei pra isso", e fazendo uma expressão pensativa, perguntou: "acha que vai fazer muito frio neste ano?"
"Tá querendo ver a neve de novo? Ele te disse que se mudaria também, na última vez que nevou, né?
"Sim", respondeu. "Ah, já te contei disso. Sabe, foi como se tivesse me pedido em namoro uma segunda vez. Na 'primeira', o figura perdeu a BV comigo, lá no ponto I. Era tão bobinho, dava até dó!", disse, enquanto sorria e balançava a cabeça.
"Tem que nevar, vai que neva só depois que eu voltar? Aí me lasco, né?", disse a outra, antes de atender uma cliente, que pegou toda a conversa, e pensou: "caramba, até aqui tem peruibense?"
Oras depois, a peruibana saudosa já estava num ônibus da linha curitiba/pinhais, para voltar pra casa, sua nova casa, cujo aluguel repartia com a garota da scooter. Chegou na rodoviária próximo ao entardecer, que admirou. "Tapou" o sol com os dedos, e sabia que tinha feito a escolha certa. Seria a primeira páscoa fora da cidade natal e longe da família, mas sabia que esse era o caminho, se quisesse viver com um mínimo de independência.
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MARCADORES: FERIADO DE PÁSCOA, CONTO, PERUÍBE, PERUIBENSE, ABRIL, 2022
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