O Herói prosseguia em seu merecido descanso numa terra distante. Por anos tinha lutado por seu país, a ponto de por em risco a própria vida. Durante uma caminhada entre inúmeros apoiadores, levou uma facada quase liquidou a ele e as esperanças de milhões, porém sobreviveu, e contra todas as expectativas de jornalistas "progressistas", venceu uma eleição presidencial de forma retumbante, humilhando aos seus muitíssimos inimigos.
Mas aquele foi em outro tempo. O imenso apoio popular que conquistou durante quatro anos de governo, não foi suficiente para impedir sua primeira derrota eleitoral, após uma longa carreira política. Preferiu não se dar ao ridículo de passar a faixa para o socialista (e antagonista) que o sucedeu, e antes do ano acabar, partiu para a importante nação do norte, onde iniciou um exílio de duração indeterminada.
Pouco após o anoitecer, já em fevereiro, com a esposa e a filha no Brasil, disse para um dos filhos que foi visitá-lo, que queria sair um pouco, ir até uma das praias locais para admirar a paisagem noturna. Disse assim:
"Edu, você dirige, tá certo? Não vamos demorar muito."
Uma meia-hora depois, ambos partiram num carro, seguidos de perto por um veículo-escolta. Na saída da casa, o herói recebeu acenos de alguns transeuntes que o reconheceram. Em Orlando, se acostumou a ser bem-tratado pela imensa comunidade de expatriados, gente que em votou massivamente nele, e lamentou imensamente a sua não-reeleição. Aliás, uma comunidade que entrou em franco crescimento, com novos imigrantes chegando e deixando para trás as incertezas de um Brasil que estava apenas no início de uma crise profunda, algo que ele tanto tentou evitar, infelizmente sem sucesso.
Após um curto trajeto, chegaram ao local desejado: um trecho de praia do qual podiam ver uma parte iluminada da cidade, cenário digno do seriado oitentista Miami Vice. Ele desceu primeiro, e ficou admirando as luzes noturnas, as quais simbolizavam a prosperidade que buscou para o próprio país. O filho desceu pouco depois, e perguntou:
"O senhor já parece melhor, depois do baque. Pronto para voltar ao front?"
"Sim, eu acho que estou. Todo mundo sabe o quanto foi difícil, aliás, continua sendo. Eu assumi uma responsabilidade e não dá pra fingir que não é mais comigo, caramba! Nunca desisti de algo antes, e continua sendo assim."
"Pô, isso tá parecendo papo de filme! Aliás, é?"
"Lembra daquele filme em que o Rock perde para um canalha que o ofendeu e depois busca a revanche? O Apollo o leva para treinar, mas ele não se sente motivado, e a mulher dá um baita esfrega nele."
"Tô lembrando. A Adrian o faz confessar que estava com medo de lutar novamente, e o motiva para dar a volta por cima, o fazendo superar a derrota e a morte do treinador dele. Foi uma cena bonita."
"Digamos que alguém recentemente também me deu uma lição de moral. Muita gente que me apoia diz que não deveria voltar, que fiz tudo o que podia, mas ela tem razão, não dá pra desistir. Recuar? E deixar o país daquele jeito? Nem ferrando, pra não dizer outra coisa!"
"Vão vir contudo pra cima, você sabe que será muito pior do que antes, mas tudo bem. Pai, tô contigo e não abro. E quando pretende retornar?"
"Dentro de algumas semanas. Me cansei de descansar e lamentar. E não sou eu que tenho de ter medo. Não temo o povo, ao contrário dos que tanto me atacaram. E agora chega desse papo-furado, de volta pra bolsocaverna, tá ok?", e com um gesto, o herói avisou os caras do outro carro ... que era hora de voltar.
MARCADORES: BRASIL, UM HERÓI BRASILEIRO NO EXÍLIO, DIREITA BRASILEIRA, ESPERANÇA POR UM PAÍS MELHOR, CONTO LITERÁRIO, FEVEREIRO, 2023
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