Frame da abertura da quarta temporada, e uma inevitável analogia
O primeiro capítulo da quarta e última temporada de Shingeki no Kyojin, que corresponde aos capítulos 91 (O outro lado do oceano) e 92 (Soldados de Marley) do mangá. Nele, vemos o desenrolar de uma batalha da chamada "guerra do oriente médio", um conflito das forças militares de Marley versus as forças médio-orientais. Derrotados na fatídica batalha de Shingashina, os eldianos pró-marley remanescentes tiveram que voltar ao território do império. A perda do Titã Colossal e da Titã Fêmea repercutiu de forma tão negativa, que a nação rival aproveitou a situação para declarar guerra.
O auge do confronto (que já dura uns quatro anos) ocorre durante a "batalha do forte Slava". Nela, eldianos continentais enfrentam o inimigo numa feroz luta de trincheiras, que lembra a primeira guerra mundial terrestre, para tomar o respectivo forte. O comandante marleyano da chamada "unidade de guerreiros", Theo Magath, trata os soldados de forma dura. O outro lado possui armamento "anti-titã", o que dificulta a ação dos Titãs Encouraçado, Bestial, Quadrúpede e Mandíbula, que são respectivamente os personagens Reiner Braun, Zeke Jaeger, Pieck e Galliard. Eles não poderão atacar o forte diretamente, cabendo ao pessoal em terra resolver a questão dessas armas, diminuindo o risco que as mesmas representam. A ideia é destruir o chamado "trem blindado", que na prática é o mais poderoso recurso defensivo. Magath planeja mandar toda a unidade dos guerreiros (formada por 800 eldianos), para que realizem um ataque praticamente suicida, para que os "cadetes" (crianças treinadas para lutar), tenham uma chance de atacar o veículo dos inimigos.
Em meio a essa tensão, Gabi, uma cadete eldiana com sonhos de glória (quer se tornar portadora de um dos Titãs), se destaca. Excelente atiradora, muito habilidosa, tem uma ideia para danificar o trem, sem que ocorra tanto sacrifício. Não que ela esteja preocupada com a sobrevivência dos soldados da sua própria etnia discriminada (pois é). O objetivo dela é se destacar, e acredita na causa da nação pela qual luta. Usando várias granadas de mão, e conseguindo enganar vigias de um nicho na trincheira mais próxima, consegue destruir trilhos do trem, descarrilhando o mesmo. Por pouco, não morre, mas tem sucesso. Imediatamente o Titã Mandíbula (Galliard) aparece, salvando ela e o cadete Falco (que se arriscou para tentar salvá-la), e os outros entram na briga mais adiante. Enfim, a vitória decisiva é alcançada. O poder dos Titãs de Marley acaba fazendo a diferença.
Mas nada disso muda a discriminação sob a qual os eldianos do continente são submetidos. Numa das cenas mais esperadas do anime, Slava é literalmente bombardeada por uma chuva de Titãs irracionais, meros eldianos comuns, drogados pelo fluido espinhal do meio-irmão de Eren, Zeke Jaeger, ou seja, pessoas descartáveis, todos bucha-de-canhão de um país que os trata como cidadãos de segunda classe, ou nem isso. Durante a fase final da batalha, Falco salva um soldado médio-oriental ferido, no que é criticado por Gabi. Ninguém entende a preocupação dele, e nem mesmo o homem que ele ajuda o agradece, pelo contrário. Em sua língua, apenas diz: "não encoste em mim. Você irá me corromper. Demônios." Nem outros povos os respeitam.
O Império Marley é uma nação onde vigora a ETNOCRACIA, um estado racista na prática. Num regime político etnocrático, uma etnia específica domina o governo, controla a estrutura estatal. A Alemanha nazista, com a qual Marley é comparada, era obviamente etnocrática, abertamente discriminatória para com os "não-arianos". A União Soviética (embora tenha sido por um longo período, governada pelo georgiano Stálin), foi uma etnocracia socialista, com os russos dominando a maioria das posições-chave do governo soviético. A África do sul do apartheid é outro exemplo prático e bem conhecido. Para a elite marleyana, o que importa é manter a liderança mundial, mesmo que isso signifique usar uma minoria étnica que ela mesma discrimina, para esse propósito. A personagem Gabi faz bem o papel de personagem iludida, evidentemente doutrinada, a tal ponto que acredita que os eldianos de Paradis são os verdadeiros "demônios", enquanto ela e os eldianos do continente são os "bons", cujo o valor será reconhecido mais adiante, sabe-se lá quando.
Eren explica o modo de pensar da Gabi
Enquanto os militares eldianos (e iludidos) de Marley aguardam por um futuro indefinido, no qual supostamente não serão mais gente odiada e discriminada, Eren Jaeger parte da ilha de Paradis, e caminha para mais adiante realizar uma terrível revolução global, numa obra na qual todos se enxergam como heróis, e jamais como vilões.
POSTAGEM RECOMENDADA: SHINGEKI NO KYOJIN (ATTACK ON TITAN): EREN JAEGER E AS ILUSÕES IDEOLÓGICAS DO SÉCULO XX
MARCADORES: MANGÁ / ANIME SHINGEKI NO KYOJIN, ATTACK ON TITÃ, TITÃ DE ATAQUE, QUARTA E ÚLTIMA TEMPORADA DO ANIME, BATALHA DO FORTE SLAVA, ELDIANOS DE MARLEY, IMPÉRIO MARLEY, RACISMO, DISCRIMINAÇÃO ÉTNICA, ILUSÕES, DEZEMBRO, 2020
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