Mikasa Ackerman, em toda sua beleza
Em 2017, assisti a alguns episódios de Shigeki no Kyojin (Attack on Titan), mas acabei prosseguindo com essa experiência só agora, em 2019. Tenho que admitir que está me surpreendendo. Não sei como qualificar essa obra: aventura dramática, terror, drama com tons apocalípticos (embora não se passe num mundo pós-apocalíptico), só sei que está sendo, de longe, o melhor anime - baseado no mangá do mesmo nome - que já assisti, e olha que vi muitos, como o já esquecido Marco (que traumatizou muitas crianças, lá nos anos 80), Patrulha Estelar/Yamato (que me deu tanta esperança, em tempos difíceis), Sawamu (Sawamura), com o lutador que inventou o incrível "salto no vácuo com joelhada", e o do piloto de corridas Speed Racer, que tinha um super-carro que saltava, ótimo nos dias de hoje para evitar os pedágios (chegou o pedágio, aperta o botão e tóim!). Também me lembro do famoso Pinóquio japonês (vovozinho!), um negócio pra lá de triste, mas com um final feliz, pois nos últimos minutos do também último episódio, o maledito boneco virou gente .... demorou, mas ele conseguiu! Enfim, o Japão influenciou e segue influenciando a infância de muita gente.
Não é meu propósito neste texto iniciar meus leitores em SNK, mas apenas dar meu ponto-de-vista sobre Mikasa Ackerman, a melhor personagem feminina que já vi numa animação oriunda do Japão. Elogiada por uns e simplesmente odiada por outros, a órfã adotada pelos pais do protagonista, Eren Jaeger, divide opiniões. A turma da lacração, entupida de marxismo cultural até o talo, adora problematizá-la. Até disseram que ela "nem é uma personagem". Como comentar um argumento babaca e sem nexo como esse? De qualquer forma, me pergunto como uma personagem "que não existe", teve tanto destaque no encerramento da primeira temporada deste anime:
O primeiro encerramento de Shingeki faz uma clara referência ao triste evento, no qual os pais da garota foram barbaramente assassinados por bandidos, que posteriormente a sequestraram, planejando vendê-la para algum depravado (pois é, esse não é um desenho pra crianças. Drama pesado!). Eren matou dois dos sequestradores, e posteriormente foi salvo por ela mesma, que num esforço supremo (que resultou no DESPERTAR do "poder" da família Ackerman), eliminou o terceiro da quadrilha com uma faca.
Posteriormente, o garoto a presenteia com o próprio cachecol que ele usava no momento do resgate, numa cena cheia de simbolismo (clara referência à lenda do fio vermelho do destino). E Grisha, o pai dele, a convida a morar com eles, adotando-a na prática.
Mais adiante, ainda crianças, os dois testemunham a queda da Muralha Maria, primeira linha de defesa do povo Eldiano (que então se considerava o último sobrevivente da humanidade) contra os monstruosos titãs. Durante a destruição do distrito de Shiganshina, a mãe de Eren fica presa nos destroços da própria casa, e acaba sendo devorada pela "titã sorridente" ("madrasta" do protagonista, olha o nível da tragédia), numa espantosa cena que marca o fim da inocência dos "irmãos", lembrando que ela foi adotada pelos Jaeger.
A partir desse ponto, muita coisa acontece. Grisha também morre (de forma igualmente trágica, já adianto, para quem não conhece SNK), eles ficam desabrigados e dependentes duma magra esmola estatal, se tornando alvos de discriminação, numa sociedade com altos índices de pobreza e que sofre com superpopulação, por causa da perda de território. Eren decide se alistar na tropa de exploração, no que é acompanhado por Mikasa e Armin, o amigo ... e de certa foma, o segura-vela dos dois (se ninguém fala isso, eu falo, tá legal?). E a importância da coadjuvante na trama vai crescendo. Como resultado do "despertar" daquilo que o autor de Shingeki chama de "Poder Ackerman", ela demonstra ter força desumana, alta agilidade, alta velocidade, alta precisão nos golpes, coordenação, e imunidade aos poderes do chamado Titã Progenitor. Uma guerreira poderosa, do nível de Levi, outro herói de destaque, e parente da mesma, pois ambos são remanescentes da família Ackerman, criada no passado para servir como super-soldados da família real do povo Eldiano. Mas nada disso a poupa de crítica dos lacradores, por causa da fidelidade e - pois é - do AMOR que ela sente por Eren.
Sim, eu falo do amor romântico, hoje tão desprestigiado e vilipendiado, e importante para a própria existência da civilização, sentimento tido até por alguns como destinado ao desaparecimento. Curioso que qualquer bom estudioso de história sabe, que quando o amor romântico entra em declínio numa sociedade, os nascimentos decrescem, comportamentos permissivos explodem (tal como agora) e a dita sociedade caminha para o fim. Cito como exemplo o Império Romano do ocidente, que com uma Roma decaída na depravação, ficou incapaz de se proteger das invasões bárbaras, embora fosse militarmente superior. Está claro que a personagem possui uma simbologia (voltada para o Japão de hoje, com seus homens "herbívoros" e taxas de natalidade baixíssimas), facilmente entendida por quem conhece um pouco da história japonesa: Mikasa era o nome de um príncipe japonês, irmão caçula do imperador Hirohito, e que o ajudou na luta para tornar possível a rendição do país em 1945 (algo que os militares nipônicos não queriam, mesmo após o ataque nuclear à Hiroshima), esforço que salvou as vidas de milhões de súditos. E ainda existem outros aspectos simbólicos dela, além do histórico (como o fato dela ser uma órfã mestiça, eldiana/oriental, cidadã de um povo discriminado) e amoroso (focado neste artigo): o religioso ou místico (se Eren é um salvador com contornos judaico-cristãos, Mikasa seria uma versão do próprio Espírito Santo), e político, visível na cosmovisão claramente anti-autoritária de Eren, que ela jamais questionou, e com a qual aparentemente concorda. Em outras palavras, não se trata apenas de uma mulher guerreira que mata gigantes pelados com duas espadas, e que literalmente voa usando o inusitado equipamento 3D. Pensar assim seria como acreditar que o Coringa do Batman é apenas um palhaço.
O belo sentimento que a heroína sente pelo protagonista, ofende um bocado feministas e até homens "feministas". Uma mulher "empoderada" (seja lá o que significa esta palavra nesse contexto) não pode se arriscar por um homem assim, sendo que ela até salvou Eren de ser sequestrado (ver o primeiro confronto contra a "Titã Fêmea") embora para a turminha lacradora, o contrário é mais do que aceitável (principalmente se o cara em questão for um macho alfa cheio da grana!). Nessa visão, até a belíssima declaração de Mikasa, tanto no mangá quanto no anime, que levou tantas fãs às lágrimas (pois é), se torna incômoda, já que se uma feminista é incapaz de amar verdadeiramente um homem, ou seja, sem vê-lo como alguém inferior à ela (toda mulher tóxica e promíscua pensa assim), nenhuma outra, dentro da lógica tosca dela, será capaz disso. Antes que me esqueça: ela é a protagonista da melhor cena romântica já feita em um anime.
Mikasa bem kawaii em cena, e Eren mostrando o que é ser homem.
Essa paixão até motivou a jovem Ackerman a criar, num momento de desespero (quando achou que o protagonista tinha sido devorado por um titã), uma realidade alternativa, em que ela e Eren se conhecem de forma diferente, embora não tenha conseguido evitar um fim trágico para ele, estória que pode ser vista na OVA abaixo:
Para qualquer feminazi, esse negócio de mulher "moderna" desejar um relacionamento monogâmico com um homem parece uma bizarrice, ainda mais a Mikasa, desinteressada em ter relacionamentos com outros membros da tropa de exploração, e que demonstra não ser "rodada", promíscua, e que preserva a própria virgindade, obviamente esperando que o amado tenha uma atitude mais arrojada com ela, não ficando apenas em buscar vingança e lutar pela libertação do povo da ilha de Paradis, sob constante ameaça do vizinho Império Marley. Não nego que seria legal vê-los no final do mangá/anime casados, quem sabe morando numa fazenda ou em uma cabana próxima ao mar, tendo Armin e Annie (aquela que ainda não saiu do cristal) como casal de vizinhos, mas as intenções do autor, Hajime Isayama para com o futuro desses dois terminando juntos, são pra lá de incertas. No último capítulo do mangá, o de número 123, ela foi a narradora, dizendo para si mesma, se os rumos da trama (agora bem sombrios, após o chamado "estrondo") teriam sido diferentes, se a moça tivesse dito ao prota que o ama, quando a oportunidade apareceu. Esse Isayama, adora dar esperanças!
E para encerrar, já que estou escrevendo este artigo faz uns três dias (não aguento mais!), deixo abaixo a mais bela canção da trilha sonora de Shingeki no Kyojin. Só espero que Mikasa, versão nipônica da "última garota", quase que uma força da natureza, seja de alguma forma, recompensada no final, após tantos sofrimentos e sacrifícios.
Mikasa's Character Image Song: No matter where you are - Legendada
MARCADORES: MANGÁ / ANIME SHINGEKI NO KYOJIN, ATTACK ON TITÃ, TITÃ DE ATAQUE, MIKASA ACKERMAN, EREN JAEGER, AMOR, PAIXÃO, ROMANCE, EREN E MIKASA TERMINARÃO JUNTOS?, NOVEMBRO, 2019
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