quinta-feira, 19 de julho de 2012

MARIANA SILVA, UMA JUDOCA DE PERUÍBE NAS OLIMPÍADAS DE LONDRES




Com rigidez japonesa, musa do judô quer ser vista como campeã 


GUSTAVO SETTI 

Mariana Silva irá representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres em sua primeira participação em uma Olimpíada. A judoca da categoria 63 kg conseguiu a última vaga com o 14º lugar no ranking mundial. Natural de Peruíbe, no litoral sul paulista, ela é considerada uma das mais belas atletas da modalidade, e assim ganhou o rótulo de "musa", o que diz não incomodar. Por outro lado, a atleta não quer ser conhecida por sua beleza, e sim como uma campeã.

Agora com 22 anos, Mariana já conta com muita experiência na modalidade. Quando tinha 15 anos, ela partiu para o Japão em um intercâmbio que durou cinco anos. Em entrevista ao Terra na sede do Clube Pinheiros, onde realizou um período de treinamentos, a judoca afirmou que no início sofreu com a cultura oriental. Segundo ela, os japoneses exaltam a rigidez e os professores são muito superiores aos alunos, o que foi difícil para uma adolescente brasileira.

De volta, a judoca conseguiu ingressar na Seleção Brasileira sênior, e agora com a vaga olímpica quer levar sua "família" japonesa para assistir aos Jogos em Londres. Porém, há alguns meses Mariana busca os ingressos, que estão cada vez mais difíceis, e vai recorrer a Confederação Brasileira de Judô (CBJ). 


Confira a íntegra da entrevista de Mariana Silva ao Terra

Terra - A menos de um mês para a Olimpíada, como está a sua preparação? 

Mariana Silva - Estou me preparando bastante, fisicamente, psicologicamente, espiritualmente, e estou treinando muito para chegar lá preparada. A gente sempre tem que estar se superando, porque na competição é tudo ou nada. 

Terra - Você já disse que quer buscar uma medalha. Existe alguma grande adversária na disputa pelo bronze, por exemplo? 

Mariana - Essa será minha primeira Olimpíada, mas independente da primeira do ranking ou da 14ª, como eu, todas têm chances de pódio. Porque ali o que conta é quem vai estar melhor no dia, quem se preparou mais. A primeira do ranking pode ficar super nervosa e perder para mim, por exemplo, por que não? Então acho que ali vai ser a cabeça que vai mandar. 

Terra - A mídia em geral está te chamando de musa. Como é que você encara, isso te incomoda? 

 Mariana - Não me incomoda, mas eu não queria que as pessoas me vissem como a musa do judô, e sim como uma campeã, talvez uma medalhista olímpica futuramente. Se não for em Londres pode ser no Rio 2016. Para mim é normal ser chamada, não faz diferença. Começou quando eu entrei na Seleção sênior, ainda mais em ano olímpico, a mídia começou a ficar em cima, sempre me entrevistando, aí publicaram isso. 

Terra - Você já sofreu algum assédio de judocas em competições? 

 Mariana - Não, eu tenho namorado. E acho que ele fica orgulhoso de eu ser chamada de musa (risos), mas não sei, ele não se expõe, não fala nada. Se ele fica com ciúmes eu não sei, mas ele não demonstra. 

Terra - Na sua longa passagem pelo Japão, o que você considera de mais positivo? 

 Mariana - Foi uma experiência que não tem palavras. Saí do Brasil com 15 anos, uma menina, não tinha experiência de vida. Eu era uma moleca, saía para jogar futebol na rua e tudo mais. E do nada surgiu a oportunidade de ir para o Japão. Pude aprender a cultura rígida deles, com muita disciplina, principalmente o que é o mundo do judô. Então foi muito bom para eu crescer como pessoa e também como judoca mesmo. Em cima do tatame, aprendi a respeitar o meu adversário, em todo momento falar muito obrigado, e quando for lutar, por favor. Isso é o significado do judô, essa disciplina. 

Terra - E o que foi mais difícil no Japão? 

 Mariana - Vou te falar, a cultura. Porque o brasileiro, quando sai daqui, igual eu, que era criança, a gente é muito espontâneo, carinhoso, pegajoso: de dar um beijo no rosto, um abraço. E lá não tinha nada disso. Então foi bem complicado aprender, eu fiquei "no vácuo" várias vezes, também passei vergonha. Muitos olhavam e eu acho que pensavam: nossa, que menina sem educação, sem vergonha. Então isso era muito ruim, mas conforme eu fui aprendendo a língua, fui vivendo, então eu aprendi um pouco mais. 

Terra - O que exatamente fazia parecer que você era sem educação e sem vergonha? 

Mariana - Às vezes até mesmo em dar a mão para o sensei, o professor, ele virava a cara e me ignorava. Teve uma vez que eu saí de uma competição toda feliz, porque tinha ganhado um estadual, e fui dar um abraço na sensei, e ela me deu um empurrão na frente de todo mundo. Eu não sabia onde enfiar a cara, aí eu pedi desculpas e depois disso, nunca mais. Eles dão uma bronca na hora, porque lá o professor é totalmente superior ao aluno, então não tem intimidade. 

Terra - Como era a sua relação com a família japonesa? 

Mariana - A Tomoko é minha "mãezinha" do Japão, considero a como mãe. Eu morei um ano na casa dela, e ela sempre me incentivou. Desde pequena, eu falo que meu sonho é ir para uma Olimpíada, e ela sempre me apoiava. O nosso relacionamento é muito bom, de mãe e filha. 

Terra - Como é que foi essa passagem recente dos judocas brasileiros no Japão, para período de treinamentos?

 Mariana - Para mim foi bom, porque eu sei a língua, conhecia muita gente do meio do judô. Pude ajudar o pessoal da Seleção que não sabia falar japonês. Então algum probleminha que acontecesse no hotel, coisas simples e você poder ajudar, é bem bacana. 

Terra - Você é de Peruíbe (litoral sul de SP) e será a primeira cidadã da cidade a participar de uma Olimpíada. Quando você vai para lá, costuma ter bastante assédio dos fãs?

 Mariana - Não tenho tratamento de estrela, mas bastante gente conhece, acompanha. Porque lá tem um jornal da baixada santista que passa bastante reportagem minha. Então às vezes eu passo na rua, vou na farmácia, e depois o pessoal quer tirar foto e tudo, mas nada demais. É bem legal, o pessoal é bem carinhoso.


Fonte: PORTAL TERRA




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