domingo, 4 de março de 2012

CORÉIA DO NORTE: A REPÚBLICA POPULAR DA FOME


 O déficit permanente de comida, em contraste com a megalomania do regime, faz com que a Coreia do Norte sustente, nas relações internacionais, uma estranha bipolaridade



O colapso do bloco socialista em 1989 e o fim da União Soviética em 1991 deixaram à deriva regimes ditatoriais que dependiam da generosidade soviética para assegurar a eficiência estatal na economia, nos esportes, na educação, na medicina e na indústria. A maior parte dos países que orbitavam politicamente a União Soviética tratou de buscar, ainda que de forma hesitante, uma abertura política e econômica, enquanto uns poucos governos se apegaram ao antigo modelo, cientes de que romper com ele equivaleria a despedir-se do poder e morrer para a história. Quem pagou caro por isso foram suas populações, condenadas ao atraso, à fome e à tirania.




Uma das poucas cidadelas do socialismo no mundo atual, a República Democrática Popular da Coreia do Norte se destaca pelos esforços armamentistas e pela ânsia de dominar a bomba atômica, em contraste com a miséria e a opressão em que vive a maior parte de seus 24 milhões de habitantes. Décadas de má alimentação tornaram os norte-coreanos mais baixos cerca de 7 centímetros, em média, que os sul-coreanos. Estima-se que entre *1 milhão e 2 milhões de pessoas morreram de fome e doenças associadas à desnutrição nos anos 1990. Algumas fontes falam em 3 milhões. No "país mais fechado do mundo", a informação é escassa como as rações de alimentos.




O regime instaurado após a Segunda Guerra por Kim Il-sung, falecido em 1994, adotou uma atitude errática desde que perdeu o patrocínio da União Soviética e passou a depender da boa vontade dos chineses, menos pródigos que os soviéticos em suas relações comerciais. Não se sabe o volume da ajuda chinesa em alimentos; apenas que é insuficiente. Só 20% das terras norte-coreanas são agriculturáveis e a falta de estrutura para transporte e armazenamento faz com que a quinta parte das colheitas se percam.




O déficit permanente de comida, em contraste com a megalomania do regime, faz com que a Coreia do Norte sustente, nas relações internacionais, uma estranha bipolaridade, em que juras de destruição às potências capitalistas e ameaças com testes nucleares - além de trocas de hostilidades com a Coreia do Sul, com a qual vive em pé de guerra - se alternam com pedidos de ajuda humanitária lançados de tempos em tempos e atendidos parcialmente pelas Nações Unidas. Na verdade, há quem defenda que a ameaça nuclear pode ser apenas um instrumento permanente de barganha.




A credibilidade, infelizmente, não é a maior virtude da Coreia do Norte, que já rompeu tratados anteriormente e teve a cara de pau de colocar sua população nas ruas para sessões orquestradas de choro coletivo quando o líder do regime desde 1994, Kim Jong-il, morreu de enfarte em dezembro do ano passado. Perfilados em formação quase militar diante da imagem do falecido, homens e mulheres choraram durante horas enquanto as câmeras estatais captavam as imagens que seriam distribuídas para o mundo.




Enigmática, desconcertante e imprevisível - assim é a Coreia do Norte, que surpreendeu a opinião pública mundial na semana passada, com o anúncio de um pré-acordo pelo qual se compromete a suspender seu programa nuclear em troca de ajuda alimentar dos Estados Unidos. O anúncio foi recebido com cautela, mas também com esperança, já que o país, ao menos em teoria, está sob nova direção: com a morte de Kim Jong-il, o poder foi entregue a seu filho mais novo, Kim Jong-un, de quem se sabe pouca coisa.




Nem mesmo a extensão do poder do novo líder é conhecida. Provavelmente, ele o dividirá com os militares, que sustentam o regime. Seja como for, mitigar a fome da Coreia do Norte é uma questão humanitária, que se impõe independentemente dos problemas políticos e ideológicos. Se isso tornar o regime de Pyongyang mais confiável e o mundo um pouco mais seguro, tanto melhor.


Fonte: JORNAL CRUZEIRO DO SUL

 


vídeo que mostra o lado belo da capital do "paraíso dos trabalhadores".

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