segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

DENISE CAMPOS DE TOLEDO / BC ENFRENTA UM DILEMA SOBRE JUROS ESTA SEMANA - JANEIRO DE 2016



Essa possibilidade de aumento dos juros tem gerado muita polêmica. É certo que, com a previsão de inflação elevada, o normal seria o Banco Central aumentar mesmo os juros, para frear o consumo e reduzir o espaço para remarcações de preços. Essa estratégia inibe até a indexação, que é a correção de preços, contratos e salários, com base na inflação passada. É assim que os bancos centrais agem em todo o mundo. Só que o Brasil já está em recessão, com queda forte do consumo, que pode se acentuar, com o provável aumento do desemprego. Portanto, o consumo não é o grande problema. O que estamos tendo é muito mais uma inflação de custos, que foi impulsionada pelo tarifaço e ganhou força com a alta do dólar que pesa muito na formação de preços no País. O dólar encarece até o preço do pãozinho, porque deixa o trigo mais caro. Mas o Banco Central, provavelmente, não vai querer ficar assistindo a inflação subir, de braços cruzados. Tem até a questão da credibilidade, que vem abalada desde quando derrubou os juros, por interferência do governo, pra sustentar, via consumo, um ritmo mais acelerado de crescimento. Na época, acabou dando margem para uma inflação mais alta que o governo, em mais uma ação equivocada, quis segurar controlando preços administrados, como energia e combustíveis. Aí a conta veio pesada. Esses preços foram corrigidos com muito mais intensidade, num momento em que a inflação já ameaçava o teto da meta, de 6,5%. Deu no que estamos vendo. Inflação de mais de 10% no ano passado, com previsão que possa passar dos 7% este ano, mesmo com a alta dos juros. Vai ser um dilema essa decisão do Copom. Até porque os juros também pesam na dívida pública, piorando o quadro fiscal, que é a base dos principais problemas da economia. E se os juros derrubarem mais a atividade, ainda tem o reflexo sobre a geração de impostos, comprometendo mais a receita do governo e, consequentemente, o ajuste fiscal. Pra mostrar que está fazendo alguma coisa e tentar, pelo menos, estabelecer uma trajetória melhor pra inflação, o Banco Central deve mesmo elevar a selic. O mercado prevê que a taxa básica de juros suba pra 14,75% ao ano na reunião desta semana, podendo chegar a 15,25% até o final do ano. O Banco Central pode se preparar pra muita chiadeira até da base de apoio do governo. Aliás, se não fosse a pressão que vem do próprio governo, a decisão poderia ser bem mais fácil, sem o peso de ter que mostrar independência.


MARCADORES: BANCO CENTRAL, TAXA BÁSICA DE JUROS, SELIC, GOVERNO DILMA / PT

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