domingo, 10 de fevereiro de 2013

PROJETO DE NAÇÃO X PROJETO DE PODER




- Sergio Tasso Vásques de Aquino


Os oficiais brasileiros que combateram na Segunda Guerra Mundial ao lado das democracias e contra o totalitarismo nazi-fascista, ao regressarem à Pátria defrontaram-se com o paradoxo de o nosso país ser governado por regime autoritário, de inspiração fascista no nascedouro. Logo logo, pois, estavam as Forças Armadas à frente do movimento pela democratização da vida nacional, do qual decorreu a queda da ditadura que vigia desde 1937. 

 Nos corpos de oficiais das três forças, na época, residia, também, a nata da intelectualidade brasileira, o que determinou o surgimento em seu seio de um ideário que buscava novos, eficazes e eficientes caminhos para a afirmação do Brasil no cenário internacional e para a concretização do seu destino de grandeza e de realização do povo, mercê dos portentosos recursos postos à disposição dos brasileiros pela luta, pela bravura, pelos trabalhos e pelos sofrimentos dos heróicos ancestrais luso-brasileiros. 

 A consequência prática dessas idéias foi a criação da Escola Superior de Guerra – ESG, com a formulação de sua notável Doutrina de Ação Política, constantemente atualizada e aperfeiçoada durante os anos seguintes e pelos tempos afora, de acordo com o próprio espírito dinâmico com que foi gerada. 

Inédita, criativa, autêntica e profundamente nacional, lastreada em elevados princípios espirituais, éticos e morais, a Doutrina da ESG transformou-se em referência para o planejamento da vida nacional e fonte de formação e aperfeiçoamento dos militares e civis que acudiam, anualmente, aos seus variados cursos, e passavam a conhecer profundamente o Brasil e seus problemas e as formas de buscar-lhes e dar-lhes soluções. Como gravado em seus dísticos característicos: “UM CORAÇÃO E UMA ALMA A SERVIÇO DO BRASIL” e “AQUI SE ESTUDAM OS DESTINOS DO BRASIL”. 

Foi difundida por toda a América do Sul e copiada, adaptada e adotada pelas escolas de altos estudos estratégicos de todos os seus países, havendo servido, também, de base doutrinária para o Colégio Interamericano de Defesa, em Washington, levada pelo então Coronel Meira Matos, quando lá exerceu as funções de Chefe do Departamento de Estudos. 

Formulados didaticamente pela ESG, passaram os Objetivos Nacionais Permanentes – soberania, integridade do patrimônio nacional, integração nacional, democracia, progresso, paz social – a orientar todo o esforço de construção nacional, centrado no fortalecimento do Poder Nacional nas suas expressões, política, econômica, psicossocial, militar e científico-tecnológica, para garantir Desenvolvimento e Segurança ao Brasil. Daí decorreram uma Política Nacional e uma Estratégia Nacional, sempre visando ao bem comum.

 A aplicação prática dos conceitos formulados na Doutrina da ESG permitiu que os governos advindos da Revolução Restauradora de 1964 dessem notável impulso quantitativo e qualitativo à vida brasileira, elevando nossa economia aos primeiros postos do mundo e garantindo a prevalência dos valores democráticos entre nós, num regime forte, porém não totalitário ou arbitrário, que se fizera necessário para salvar o País da ameaça de domínio pela esquerda extremada, de inspiração marxista-leninista-maoista-castrista-trotzkista, que apelara à agitação propagandístico-política e à via armada para a tomada do poder. 

 O planejamento estratégico integrado, cobrindo todos os campos de atividades e todas as regiões do Brasil, seguido de adequadas ações de organização, execução, coordenação e controle permitiram o desenvolvimento, mais que o crescimento apenas, em todas as expressões do poder nacional e por toda a parte, melhorando a qualidade de vida dos brasileiros e elevando nossa Nação no concerto internacional. Foram notáveis os surtos de progresso e de bem-estar experimentados, num dos índices de desenvolvimento mais importantes da História humana contemporânea. Nenhum dos Generais-Presidentes se quis eternizar no poder, sendo seus períodos de governo constitucionalmente limitados, e generalizada era a honradez na gestão da coisa pública: nenhum deles enriqueceu no governo, nem havia os escândalos que se tornaram tão comuns a partir da chamada “democratização”, ao ponto de hoje serem considerados inevitáveis e normais pelo povo, que foi perdendo suas referências ético-morais pela intensa lavagem cerebral ideológica a que vem sendo submetido, principalmente de 1990 para cá. 

 O ideário do Movimento Salvador de 1964 buscava “debelar a subversão, erradicar a corrupção e promover o homem comum brasileiro”. Uma vez que foi percebido que a Nação voltava a trilhar os bons caminhos históricos, que faziam do Brasil o festejado “país do futuro”, capaz de ver realizados os sonhos de grandeza, paz e abundância que sempre inspiraram seus melhores filhos, mercê da aplicação racional dos formidáveis recursos naturais de que é superlativamente dotado, os últimos Generais-Presidentes resolveram promover a abertura política, com a chamada “democratização do País”. Dessa forma, de maneira espontânea e sem traumas, encerrou-se o chamado “período militar”, com o retorno do governo aos civis, mediante eleições livres e universais. 

 Antes de deixarem o governo, e como notável contribuição para a paz social, os governos militares promoveram a anistia, “ampla, geral e irrestrita”, seguindo o exemplo magnífico de Caxias, o Pacificador, aplicável a ambos os lados envolvidos na cruenta luta dos anos anteriores, um defendendo as instituições no campo democrático e o outro tentando substituí-las por outra ordem, de acordo com sua inclinação ideológica comunista. Como consequência, muitos antigos guerrilheiros e terroristas, que se haviam exilado do Brasil, trocados por diplomatas estrangeiros sequestrados pela esquerda extremada, e líderes políticos de esquerda puderam regressar ao País e reencetar atividades políticas, em função do que finalmente puderam ascender aos mais altos postos da República, nos Três Poderes. 

 O primeiro Presidente civil a ser eleito, Tancredo Neves, faleceu antes de assumir, causando ambiente de profunda comoção nacional. Em seu lugar, foi empossado o Vice-Presidente, José Sarney, extremamente frágil politicamente, já que o cenário político, na época, era dominado pelo chefe real da oposição e figura dominante na Assembleia Nacional Constituinte, da qual decorreu a Constituição de 1988, Ulysses Guimarães. Essa Constituição, parlamentarista no espírito e bastante influenciada por idéias de revanche e de divisão da sociedade, tem sido a causa última das graves mazelas que passamos a viver nacionalmente desde então. 

 Fraco foi o governo Sarney, com uma inflação galopante, que atingiu píncaros absolutamente inaceitáveis, que corroía a moeda e vida econômica e social do Brasil. A percepção de crescentes focos de corrupção no governo e fora dele fez com que os brasileiros, ainda sensíveis a esse problema naquela quadra, aceitassem a imagem do “caçador de marajás”, teatralmente assumida pelo desconhecido candidato Fernando Collor de Mello, que, graças ao surto de aspiração ético-moral e ao apoio avassalador da mídia, especialmente televisiva, se alçou a Presidência em 1990. Esse, também, foi o ano fatídico, em que o Projeto de Nação concebido, formulado, vitalizado e aplicado pelos “governos militares” passou a ser combatido, vilipendiado, esquecido, sendo substituído por mero projeto de poder, até hoje e crescentemente em curso, para tristeza e infelicidade nacionais. 

 Quem estudar com isenção a História do Brasil, de 1964 a 1984, verá que os militares intervieram na política, para salvar o Brasil da ameaça de comunização que sobre ele pairava, de forma perigosa, imediata e real, e atendendo aos clamores do povo. Os índices de progresso e avanço da vida nacional, em todos os campos e setores, foram naquele então, e até hoje, inigualáveis. E havia honradez na gestão da coisa pública. De forma alguma, éramos, como atualmente, dos mais corruptos países do mundo. O Brasil se dava ao respeito e era respeitado e ninguém de fora, Estado, empresa, ONG, se metia em nossos negócios ou atrevia-se a querer dizer o que devíamos fazer. Éramos uma só grande Nação, soberana, altiva, una e indivisa, sem fracionamentos e lutas de classes e sociais, exemplo de convivência fraterna para o mundo. A grande civilização dos trópicos, que cria em seu radioso futuro, tinha fé, esperança e orgulho de ser Brasil! 

 Rio de Janeiro, RJ, 05 de fevereiro de 2012.


Fonte: DEBATES CULTURAIS



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